A Próxima Manifestação - Reunião 3

Sábado nublado com cara de chuva às quatro horas da tarde, mais uma reunião. O primeiro a chegar é Beto que se deita sobre o sofá e tira um cochilo até Larissa acordá-lo:

- Ei, cara. Não dorme desde quando?

- Ah não dormi direito, muito mosquito, depois a chuva da madrugada, depois os olhos de Laura me dominaram. Porque mulher faz o cara perder o sono?

- Porque sono que é sono só é sono de verdade depois do casamento!

Igor surge, e com a cabeça na janela pergunta:

- Quem é que vai casar aí?

Larissa, irônica, responde:

- Laura!

- Quem diabos é essa?

Beto reclama:

- Não conhece ela? Ah, esquece!

A moça continua:

- Laura vai se casar com o Manoel, ou com o Henrique, Pablo, Gustavo, Honório, Airton. A Laura, letra L, Leandro, Leonel, Lino, Ludoval, haha, ela não gosta de ninguém com a letra B, op’s, Roberto começa com R!

O último que chegou queria saber o porquê daquele encontro:

- Me tiraram da sinuca por qual motivo, alguém teve uma ideia boa?

- Esperando o Bruno...

- É, foi ele que chamou. Mas gente, cês almoçaram?

Antes de alguma resposta pela questão feita por Beto, Bruno aparece:

- Opa. Chegaram agora? E que cara de sono heim Betito?

Todos batem palma ironicamente, menos Beto que deita no sofá e diz:

- Me acordem quando ganharem na loteria. Se eu ganhar, for fazer protesto no Caribe, o mar do Caribe não pode ser de água fria, se a piscina é aquecida, porque a água do mar não pode ser?

Bruno, animado, esclarece:

- Tive uma discussão com o pessoal da internet, o grupo lá que cagou numa viela e foi preso, passaram uma noite na delegacia, os pais pagaram fiança e eles cagam em casa agora. Conversávamos a respeito desse povo que começou a manifestar sem uma causa, no começo tinha a parada dos centavos, copa, olimpíada, jogos panamericanos, jogos de inverno, não, aqui não é frio, só esfria aos sábados, mas com tantos motivos não houve mais ordem, virou palhaçada, então precisamos imediatamente mobilizar apenas um único e exclusivo assunto!

Larissa também enfatiza:

- Bora mexer com a polícia, contra a bala de borracha. Que usem outro artefato, mas que não seja bala de borracha, sonhei que eu estava fugindo de centenas dela, foi um horror...

Igor comenta:

- Sem falar no spray de pimenta né? Aquilo ali cega, lembram quando eu fiquei dois dias com o olho esquerdo lacrimejando... Pois é, pois é, tive que mentir para minha mãe que tinha entrado em aulas de jiu-jitsu...

Beto, acorda, senta-se e desabafa:

- Eu vou protestar contra o arroz de sábado, mamãe passa a semana inteira cozinhando arroz, é bom, branquinho, soltinho, enfim, mas sábado ela não tem gana de cozinhar, então a parada fica grudenta, dura, é horrível, parece pedra com alho, às vezes eu almoço coxinha na padaria, mas não é sempre. Eu acho que é certo, ela tem direito, eu a vejo no fogão em dias de sábado e ela não se sente feliz, falta alguma coisa, é como a educação, se não tem estrutura, o professor vai querer pedir licença. Se não há material, o médico não vai pra saúde pública e eu acho que é isso, não ao COZINHAMENTO DE SÁBADO!

Todos ficam em silêncio, só Bruno que ousa falar:

- Essa parada deu fome!