A praia e o picolé

Em um dia ensolarado – onde os raios solares batiam em meus óculos, cegando-me –, resolvi ir à praia, divertir-me. Para isso, vesti-me adequadamente: coloquei os óculos de sol (o outro que uso são para fins meramente simbólicos, para assemelhar-me aos intelectuais), coloquei uma bermuda, uma camisa regata e um pequeno chapéu. Essas roupas deixaram-me parecendo um pinguim humano, mas com um detalhe: um pinguim albino. Uma espécie de sorvete de baunilha com roupa. Ao término dessa sessão, resolvi, naturalmente, dirigir-me à praia. Entretanto, esqueci minha pequena barraca de sol. Sem ela, decerto eu ficaria parecendo um picolé de carvão [fico imaginando qual sabor isso teria.] Depois desse pequeno reajuste, decidi – finalmente – ir à praia. Quando estava colocando os pés para fora de casa, ouço uma voz fina, severa, que demonstra um ar de superioridade, como se eu fosse uma espécie de bicho de estimação – um bicho de estimação que se veste sozinho e pensa [às vezes]. Essa voz profere o seguinte: “Aonde você vai? Posso saber? Porque, dependendo aonde for, também quero ir.” Olho para trás, e vejo de quem provém essa tão espinhosa voz: minha mulher. Nesse momento, o sol escurece. Meu corpo começa a derreter-se como um picolé sem barraca de sol. A realidade bate em minha porta (nesse caso, ela a fecha) e percebo uma coisa: sou casado.

dux Cheshire
Enviado por dux Cheshire em 12/06/2017
Reeditado em 12/06/2017
Código do texto: T6024921
Classificação de conteúdo: seguro