Coelho com porrete

Sonhei que eu tinha sido chamado pra fazer um bico à noite num fast food. O trabalho consistia em me vestir de coelho e, dando pulinhos, dar as boas vindas às crianças que chegavam com as famílias.

Já usando a fantasia, o gerente me chamou para informar: "nosso segurança faltou. Quero que você faça o trabalho dele também. Eu pago a diferença. Toma", e me entregou um pedaço de pau de um metro e pesado (costumo chamar peças assim de "chico doce"). Fiquei surpreso e perguntei se tinha sentido eu estar recebendo crianças com um porrete na mão. "Não é pra ficar na mão, esconde atrás da lixeira", explicou. "Se entrar cachorro, mendigo ou petista, vai lá e põe pra fora". Ainda mais surpreso, não pensei duas vezes. Resolveria por conta as questões de outra forma. O cachorro, conduziria até a saída de forma amigável, sem qualquer rompante de grosseria. E se estivesse a meu alcance, colocaria água e comida para ele na calçada. O mendigo, conversaria, também amigavelmente, prometeria pagar um lanche e pediria para se retirar, não por minha vontade, mas do patrão (lembrei que nos comerciais do fast food jamais vi qualquer figurante que lembrasse um mendigo). Agora, no terceiro caso, não teve como eu não questionar. E assim o fiz. "Por que expulsar petista?". O gerente explicou: "eu dou as ordens e você as cumpre. Estou te pagando. Sem perguntas. Se entrar petista, você expulsa". Insisti: "mas qual o problema de uma pessoa ser simpatizante ou mesmo atuante do partido?". O gerente me olhou na cara por alguns segundos e respondeu com outra pergunta: "você é petista?". Já perdendo a paciência, respondi: "não. Sou corintiano". Ele concluiu: "dá no mesmo". Discordei: "não dá não! Tem um amigo meu que é palmeirense". O gerente levantou-se da cadeira: "você tem amigo petista?".

Sem responder, coloquei o pedaço de pau no balcão e me dirigi à saída. Aí aconteceu o que já havia acontecido em vários outros sonhos: à medida que eu caminhava, querendo ir pra frente, alguma influência ou entidade de curupira me fazia ir pra trás. Solução: dei meia-volta e, de cara pro gerente e outros dois funcionários próximos dele, que olhavam pra mim, dei tchauzinho e sorri - mas meu sorriso não podia ser visto devido à máscara de coelho - e ordenei às pernas que caminhassem para o balcão. O senso de gravidade do sonho me fez caminhar para trás e aí sim, fui em direção à saída. Depois de quatro ou cinco tchauzinhos, eu já estava na calçada.

Dois quarteirões depois, eu andando de ré, estacionou viatura do Controle de Zoonoses e os agentes me enquadraram - eu, o coelho - e vendo que eu não usava coleira nem qualquer outro acessório identificador, me levaram embora.

Tem sonhos que a gente fica com medo que se tornem realidade e até reza para que o ocorrido não se concretize. Queira Deus que nunca estas coisas horríveis aconteçam. Que assim seja.