Criança as vezes complica
Criança as vezes complica a gente
Criança sai com cada uma. As vezes nos coloca em dificuldades para respondê-las. Há uma premissa de que pai sabe tudo e aí é que mora o perigo.
Certa vez meu filho mais velho, naquela época com uns seis pra sete anos me perguntou: “painho como se escreve tio?” Entendendo ser grau de parentesco, respondi: “T-I-O”. Ele logo emendou: “e viu?”. Entendi ser o verbo e respondi: “V-I-U”. Não satisfeito, continuou: “e mil”? Desta vez entendi ser o numeral e respondi: “M-I-L”. Pra me matar ele arrematou: “mas não é tudo IL?”. Aí me complicou, porque essa nossa língua é complicada mesmo.
Outro dia fui com ele ao aeroporto passear, mostrar-lhe os aviões, que antigamente era um passeio prazeroso, antes de existir shoppings. Pois bem, quando nos aproximamos da varanda onde se avistava os aviões o piloto ia subindo a escada junto com as comissárias. Meu filho, muito observador disse: “painho lá vai o motorista do avião”. Eu expliquei. Meu filho avião não tem motorista, é piloto. Motorista é de carro. Tranquilizei-o e ainda passei-lhe conhecimento. Estava enganado. Chegando em casa, estava passando uma corrida de Fórmula 1 e o bendito narrador achou de dizer alto e bom som: “o piloto da Ferrari ultrapassou pela direita”. O narrador disse uma frase inteira, mas ele só ouviu “o piloto” e logo me corrigiu: “tá vendo painho, piloto é de carro. Motorista é de avião”. Foi difícil explicar pra ele que na corrida o motorista era piloto.
Tem vezes que criança não complica, até ajuda. Um belo dia ele fez alguma travessura e a mãe colocou-o de castigo e ele continuou questionando o por que, com a voz elevada. Então a mãe olhou prá ele e disse: “fale baixo. Aqui nesta casa quem fala alto sou eu”. E ele olhando prá mim perguntou: “e painho?” Eu me levantei, abracei-o e disse: “muito bem meu filho eu também falo alto”. A mãe sorriu e tirou-o do castigo.
Hoje tem 42 anos e eu continuo amando-o, só que, quem tira as dúvidas hoje é ele, nas minhas aventuras no campo da tecnologia.