PELO CELULAR...A REVOLUÇÃO DOS “BRINQUEDOS”

Advertência: a presente crônica é imprópria para “menores de sete anos”.

Estávamos ali, reunidas entre amigas a título de jogar conversa fora.

E já é de praxe: nesses dias que se aproximam das festas de final de ano é comum que nos reunamos com amigos para falar da vida de hoje e da de ontem também.

O amanhã só a Deus pertence.

E “papo vai papo vem”, ela, uma diretora de escola, enveredou pelo assunto sobre “crianças de hoje em dia” e claro, é impossível não nos “auto contextualizarmos” ao se falar das crianças, inclusive das que fomos, inseridas no meio de dantes, e na verdade, crianças que nunca deixamos de ser, ainda que tentemos nos inserir nesse mundo, digamos, pra lá de vanguarda meio adulta, o dos tempos atuais.

Um saudosismo de plenitude.

Tudo mudou a jato de nós para os nossos filhos e sinto que temos que nos “re-formatar” nos conceitos de valores todos os dias, e tal não é tarefa muito fácil, inclusive quando o tempo nos mostra que se passa muito rapidamente da condição de crianças ...para pais educadores e de repente... a avós deseducadores.

Ali, todas juntas, lembramos então daquele consagrado “dia do brinquedo”.

Lembram dele?

Antes um pensamento pelo tempo: a bem da verdade, nunca tive dia de brinquedo: imaginem, BRINCAR NA ESCOLA? #quequeéisso?

Estudei o que hoje se chama de “ensino fundamental” num colégio religioso no qual me puxavam as orelhas SÓ porque eu, já entusiasta das ciências, batia minha sola do sapato na escadaria de madeira a me encantar coma ressonância da " lei do eco”, aquela acústica da física, que ensurdecia a madre superiora.

Aqui confesso que aquilo pra mim...a minha sola do sapato, era uma “arma” silenciosa de revanche vingativa...contra a dor das minhas orelhas.

Então, já na época da minha filha, o “dia do brinquedo”, o de não tão antigamente assim, era um dia em que se levava o brinquedo preferido à escola, um relax comunitário no objetivo de coletivizar a turma, trocar percepções pelos objetos do outro, solidarizar atitudes, compartilhar pertences, enfim, uma recreação muito bacana.

Recordo que se levava a bola preferida, o ursinho de pelúcia, (lembro até duma lontra toda desengonçada que provocava gargalhada, uma espécie de bullying do bem entre a turminha), lembro dos joguinhos de tudo, do War, dos brinquedos da moda, e da vanguarda da época : o karaokê, e os “vídeo- games”.

Ouso dizer que o dia do brinquedo, do ponto da vista da psicologia infantil, já identificava os perfis “nerds” dos mais “descolados”de vanguarda, dos irreverentes desafiadores do mundo.

E a minha presente crônica, a duma “saia justa” da diretora da escola, começa quando a minha amiga, dia desses, se viu em “palpos revolucionários” com o tal do “dia do brinquedo”.

Até ali, tudo parecia correr normalmente para a época.

Todos levaram de tudo, desde a boneca e os carrinhos retrógrados até o celular, esse aparelhinho, moderninho e infernal, que atormenta a vida de todos de nós, nas situações mais inusitadas e constrangedoras a todos.

Contou-me a minha amiga que carrinhos, trenzinhos, aviõezinhos, bonecas e suas roupinhas fashions para o desfile do dia, maquiagens, bolas, kits do “star war”, novidades da Disney, “Legos”, enfim , tudo despertava um certo “interesse desinteressado” , como peças dum museu dos “nerds” frente à tecnologia do "garoto internético" que levou apenas o celular.

De repente, na sala de entretenimento, soube-se que todos desistiram do museu de brinquedos desinteressantes para se conectarem em conjunto com a modernidade, de olhos arregalados e boquiabertos, a disputar, quase aos tapas, um fixo lugar ao sol da pequena telinha que rodava algo diferente nas mãos do “Joãzinho de sempre", o de vanguarda”; e depois do bochicho que se espalhou rapidamente entre eles, digo que a tal cena que descrevo apenas foi relatada “em parte” na diretoria...no dia seguinte ao acontecido:

“diretora, é que ele (um garoto de sete anos) trouxe o celular do pai dele escondido, só porque tinha um filminho diferente com as pessoas”.

Bem, não preciso entrar em detalhes, e, em breve explanação, deduzo que antropologicamente o “Joãzinho” de antigamente só se reformatou, e nos ensina que hoje já faz uma revolução escolar no seu “dia do brinquedo”.

E o mais incrível: pelo celular, ao toque da era digital!

Chamaram então a mãe do moleque, delicadamente, claro, dentro dos “conformes pedagógicos”, preocupados que estavam com a atitude do “furto” do celular do pai e também com um possível conteúdo “humano” ali rodado, julgado pelos educadores, quiçá, ainda impróprio para a idade do aluno.

“senhora, temos a dizer que seu menino na data de tal..e blá blá blá...”

O que se ouviu da mãe?

“Diretora, fala logo, era o meu marido, me diga pelo mais sagrado, eu preciso saber, era o meu marido, não era?”

E a diretora:

“Senhora, por favor, se acalme, não vi o filme e, ademais, eu não conheço o seu marido!”.

E eu ali, ara, eu, na qualidade de expectadora indireta do filme, no meu justo e pleno direito de apreciadora das "artes", confesso que senti o mesmo que os que me lêem agora sentem: por mais que eu negasse...fiquei louca para saber se era ou não o marido dela!”.

Há algum mal nisso?

É que, numa atitude humanística, fiquei super preocupada com o destino do pobre homem.

Nem a diretora e tampouco eu sabemos lhes relatar o final da história verídica...e já me desculpo por, em vão, tê-los feito me lerem até aqui.

Só sei que disso tudo , como numa fábula da vida , tira-se uma grande moral com uma pequena advertência:

“Estimados pais, guardem muito bem guardado os seus celulares”.

E antes de usá-los, leiam suas bulas para depois os deletarem cuidadosamente.

Fica o conselho.

É que os tais aparelhinhos oferecem “graves riscos às vidas.”... das crianças já crescidas.