PALAVRÕES



Givanildo era um rapaz problemático. Não que era de fato problemático, mas todos o rotulavam como tal. Ele tinha um pequeno defeito em dialogar com as pessoas: em quase todas frases que dizia, havia sempre um palavrão.

Ele disse que não sabe ao certo a origem desse costume. Provavelmente, a mania de falar palavrões decorreu no hábito de ouvir jogos de futebol pelo rádio. Seu time mais perdia que ganhava. E cada derrota era uma enxurrada de palavrões.

Nossa sociedade não admite certos defeitinhos. Na hora de arrumar emprego, Givanildo já entrava perdendo na disputa. Parecia seu time de coração. Numa entrevista de emprego, em uma empresa conceituada na cidade, Givanildo se prepara para entrar na sala de entrevista, e ao entrar, tropeça no carpete e solta um “puta que pariu” bem alto. O entrevistador já o olha meu torto, de soslaio.

_Bom dia, meu nome é Givanildo.

_Bom dia. O meu nome é Joaquim. Você veio para disputar uma das vagas disponíveis em nossa empresa. Diga então suas qualidades.

_Porra, tenho muitas qualidades. Sou simpático, tenho vários cursos na área de informática, tenho graduação em administração, sou proativo, etc.

_Bom, é interessante, mas quero ouvir mais. (o entrevistador já com uma puga atrás da orelha)

_Caralho, sei falar duas línguas estrangeiras: inglês e...porra, espanhol. Estava quase aprendendo a falar a merda do francês, mas tive que trancar a porra do curso.

_Você consegue se expressar sem falar palavrões?

_Que palavrão?!

Dizem que quando um defeito vira hábito, torna-se difícil percebê-lo. Assim foi com Givanildo e ficou evidente pela primeira vez ao ser questionado pelo entrevistador.

_Givanildo, você tem um bom currículo, porém, essa sua mania de falar palavrões não se enquadra no perfil de nossa empresa.

_Porra! É jeito de falar! Que palavrão o quê, porra!

_Infelizmente, teremos que terminar nossa entrevista. Em outra oportunidade, entraremos em contato.

_Não vão me contratar?

_Não!

_Então vai tomar no cu!

Em todas as entrevistas de emprego, Givanildo era dispensado pelo mesmo motivo: palavrões. Por ser pouco adepto à religiões, Givanildo era católico não-praticante. Até que um dia resolveu rezar e pedir uma ajudinha do céu:
_Porra, Senhor, ninguém quer me contratar só porque falo uns palavrãzinhos! Mas que merda! Dá vontade de mandar todo mundo tomar no cu. Porra! Caralho! Dá uma forcinha aí!

No dia seguinte, uma agência de empregos liga para Givanildo dizendo para comparecer a outra entrevista às 11h. Ele se prepara e reza novamente: _Porra, Senhor, tomara que dessa vez eu consiga essa merda desse emprego. Já tô puto da vida! Caralho!

_Bom dia, meu nome é Givanildo.

_Bom dia, porra, morô! Meu nome é Gil Brother, porra!




 
Autor: Diego Magalhães







Jaime Gil da Costa, mais conhecido como Gil Brother Away ou Away (Petrópolis29 de julho de 1957) é um ator,comediantevlogueiro e ex-dançarino brasileiro. Conhecido por ter participado do grupo humorístico Hermes e Renato da emissora MTV Brasil, em que trabalhou durante 6 anos. Também conhecido como Brother, ou Brother AwayAway de Petrópolis ou Away Nilzer participou de diversos quadros do programa humorístico interpretando personagens variados como mendigostraficantesjornalistasempresários e advogados cozinheiro que possuem como traço comum, uma personalidade marcante, intensa e explosiva. (Fonte: wikipedia)