A onça e eu

Estava escuro e o frio úmido da noite estava provocando uma melancolia horrível em mim. De repente, meu coração quase sai pela boca quando o ruído de um rápido mover na mata, ao lado da trilha pela qual eu seguia, chega aos meus ouvidos. - É uma onça, pensei. Em seguida, procurei me tranquilizar, afirmando para mim mesmo que se fosse uma onça, eu não teria ouvido nada, pois esses animais, por natureza, são extremamente silenciosos. Então não havia motivo para me preocupar.

Novo ruído. E desta vez mais próximo! Que Mané silenciosa que nada; eu vou é fugir dessa fera! Em disparada, lancei meu franzino corpo a uma corrida desenfreada no sentido norte da trilha, que ia se estreitando à minha frente; e o pouco que eu conseguia enxergar com a tênue luz que saia de minha ridícula lanterna de pilhas palito não me tranquilizava nem um pouco. O barulho ouvido alguns passos atrás, continuava chegando, cada vez mais perto de mim. Senti um bafo quente e fedorento horrível; senti um frio congelante descendo pela coluna vertebral, da nuca em direção às costas e às partes baixas. Um arrepio, inevitável, deixou eriçados todos os pelos do braço. Em seguida, senti o mesmo efeito nos cabelos da perna. Eu estava a cada passo mais assombrado por causa daquele barulho medonho, cada vez mais e mais perto de mim. A impressão que eu tinha era de que eu podia ouvir e sentir a respiração ofegante saindo dos fortes pulmões do predador. Fiquei paralisado quando ouvi um grunhido muito forte, pavoroso, estrondoso, ecoando dentro nos meus ouvidos. Soltei um grito horrível, com todas as forças que o terror daquele momento me permitiu.

Foi aí que algo muito estranho aconteceu: eu escutei outro grito, um grito de reprovação: - Ai, que susto! Tá ficando louco? Isso é hora de ficar com essa gritaria, seu velho maluco?! Vê se me deixa dormir! Abri os olhos e, ainda confuso, vi os olhos arregalados da minha mulher, levemente iluminados pela penumbra de um fio de luz que entrava ao quarto por uma fresta na janela. A partir daí, tudo se acalmou. A Mulher também levou um susto danado, mas pelo menos parou de roncar no meu ouvido; de ficar me assustando! Com leve e maroto sorriso estampado, gostei de imaginar uma explicação para o pesadelo: não se tratava apenas dos roncos e esbaforidos da velha nos meus ouvidos! É que, na verdade, a onça estava ali, bem pertinho, deitada no travesseiro ao lado, esperando uma oportunidade... Satisfeito com minha pequena maldade, voltei a dormir e, dessa vez, bem quietinho... Sem pesadelos e sem ouvir os horripilantes roncos da patroa!

limalves
Enviado por limalves em 04/07/2015
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