Um caipira numa agencia bancaria. Parte 3 – O financiamento

O caipira Severino chega à agência bancária para buscar o dinheiro do financiamento para comprar as dez vacas da raça nelore, que são mais apropriadas para produzir a carne, porque produzem pouco leite. É bom que se diga também que ele nunca havia tomado dinheiro emprestado em nenhum banco.

O diálogo acontece entre ele e o gerente da área de financiamento rural.

- Olá sinhô gerento.

- Boa tarde, no que eu posso servi-lo?

- De novo esse negócio de me servir? Não quero ser servido, vim buscar o dinheiro. A grana. A bufunfa. O cascalho para comprar as vacas. Meu touro ferrão já tá lá na roça esperando as namorada chegar.

- E ao cadastro, o senhor já se submeteu?

- Cuma? Meteu aonde? Eu já vim aqui duas vêz e só fiquei de trazer o documento de dinha para saber o nome dela. Cadê o dinheiro?

- Eu vou ver se o seu cadastro foi aprovado. O senhor já teve algum problema de inadimplência?

- Cuma? Eu não sei o que o sinhô falou, mas não tenho nenhuma doença não.

- Deixa eu ver. Hum, o seu cadastro está pronto mesmo, falta somente colocar o nome da sua esposa. O senhor deixa eu ver a R. G. dela?

- O qui é isso meu amigo? Não vou deixar ver nada dela. Ela já é velha. Se arrespeite.

- O senhor parece que bebe.

- Bebo sim. Aceito uma cachacinha, se for da boa.

- Desculpe, mas o senhor não entendeu. Eu quero ver é o documento dela que o senhor ficou de trazer.

- Ah bão! Tome aqui. Ela tem inté um dinheinho numa cardeneta nesse banco.

- Isso é bom. Dona Raimunda de Jesus é o nome dela, mas não tem o seu sobrenome de “pode botá” no nome dela. Porque isso?

- Nóis só se casou na igreja e nunca vi dizer que Deus mudou o nome de ninguém na igreja. Ela é ela, eu é eu e nóis é nóis.

- Hum, entendi. Então ela não é a sua concumbina. É considerada cônjuge legal.

- Não inventa nome não. Não cumbina nada. O nome é Dinha, a minha mulé. Tá bão?

- Tá certo. Como está a poupança dela?

- Deixa a poupança da minha mulé fora disso. Eu não estou mexendo em nada seu.

- Sei, sei. Deixa pra lá. Aqui está o seu contrato.

- Eu não quero pagar prestação todo mês. Quero anal. Uma por ano.

- Anual, o senhor quer dizer. Vamos assinar. O senhor sabe assinar?

- Sei assinar devagazinho se me mostrar o lugar. Antes eu enfiava o dedão em todo lugar, mas aprendi a fazer meu nome num papé escreveno mais de mil vezes. Parece que vou levá o dinheiro. Meu sobrinho e o vendedor das vaca vêi também.

- Muito bem. Assine aqui o seu nome. Se o senhor quiser, pode colocar em rubrica.

- Não quero botar em ninguém. Deixe em tal de lumbriga de fora. Vou assinar sozinho.

Depois de assinar, o gerente pediu para o rapaz que o acompanhava ir chamar o dono das vacas para assinar uns documentos e receber o dinheiro. O caipira falou:

- O patrão das vacas tá ali sim. Mas eu quero pegar o dinheiro no caixa e entregar a ele, pois eu já paguei duas vaca a ele com meu dinheiro e quero o meu dinheiro de vorta. Vou chamar ele.

O vendedor dos animais entregou os documentos de quitação da venda. O gerente pegou os documentos e falou:

- Está bem, tome este papel e se dirija ao caixa para pegar o dinheiro

O caipira foi ao caixa, e quando recebeu a montanha de dinheiro de R$ 10,00; R$ 20,00; R$ 50,00 e R$ 100,00 gritou:

- Dinheirooooo! Desmaiando, caiu na frente do Caixa. Os vigilantes foram socorrer. Depois de alguns minutos o velho tomou água e ficou recuperado. Disse que nunca viu tanto dinheiro assim. Junto com o sobrinho, separou uma parte do dinheiro que devia ao vendedor das vacas, e voltou para a roça.

O gerente sabia que o vendedor das vacas também tinha uma loja que vendia motos.

Como será o final desta história? Será que as vacas chegaram à roça do senhor Severino? O fiscal do banco foi lá verificar.

Veja o final no último capítulo nos próximos dias.