Confusão no enterro
Este fato aconteceu em uma cidade do interior de Minas, narrado por um amigo, já de idade, que presenciou tudo e me contou com muito bom humor. Vou tentar passar o mesmo ânimo para este texto.
Morreu, em um sábado, pela manhã, um senhor que se chamava Moacir; ele era muito querido por todos na cidadezinha. Deixou viúva e muitos filhos. Aquele dia parecia triste para todos da cidade...o clima estava abafado em todos os sentidos.
O enterro foi marcado para às 16 horas e no local do velório já não cabia tanta gente. O calor estava "de matar" como diziam por lá, nas lamentações comuns, que se ouviam das pessoas, nunca satisfeitas com o tempo.
Pois bem, os amigos do senhor Moacir compareceram em peso! Muitos choravam, outros diziam as suas qualidades, seus feitos, sentiam a falta que ele faria pelo centro da cidade, quando ele sempre transitava com seu guarda-chuva, não importando se chovia ou fazia sol. Muitas vezes, marcava presença no banco da praça, batia papo com os idosos como ele e ia às missas. Todas elas. Ele era referência para se saber os horários delas.
O sino bateu 15 horas e 30 minutos. O cortejo saiu da igrejinha.
Três senhores (Antônio, Joaquim e Manoel) começaram a conversar mais alto e o padre emitiu um "psiu" forte, que os fez calar. Pararam a prosa. Mais respeito com o morto! Repreendiam, os presentes, com os olhares.
Após uns cinco minutos de caminhada, entrou na fila, próxima ao caixão, um cadeirante, que era muito religioso, chorando a morte do amigo.
A cena tocou tanto o coração dos senhores Joaquim, Manoel e Antônio, que na mesma hora começaram a bater palmas efusivas, no meio da multidão.
Neste momento, os filhos do defunto e os amigos mais próximos se revoltaram... furiosos, partiram para cima dos três, sem querer saber o motivo das palmas.
Conseguiram pedaços de pau, pedras e começaram o "fusuê". Foi soco, chute, cusparada, paulada, varada, via-se agressão por todo lado!
O caixão no chão da praça aguardava em paz, contrastando com aquela confusão.
Resultado: os envolvidos na briga foram parar na delegacia; lá tinha gente sem dente, com olho roxo, cabelo arrancado, canela sangrando, nariz arrebentado, braço quebrado e alguns, foram parar no pronto socorro local!
E era uma vez um velório respeitado; o caixão, no chão da praça, aguardou pelos filhos e parentes do senhor Moacir, que prestavam depoimentos sobre o ocorrido, agredidos também. Quase acontecia mais de um enterro, naquele dia!
A salva de palmas virou surra de vara e desdobramentos!
O cadeirante na hora da briga, desapareceu...a cadeira virou e o protegeu. O real motivo de tudo, naquele momento, ninguém entendeu!
E foi assim que, um repórter brincalhão, que adorava rima, deu a notícia, em manchete, no jornalzinho do dia seguinte:
Velório termina em pancadaria: sr. Moacir, já salvo, nos braços de Maria!