Meu pai, inveterado pescador, sempre bem humorado e com uma estória pra contar, vez ou outra saia com aquela da diferença da cabra pra vaca. Vai aí a minha versão pra esse “clássico”. Por sua conta e risco.
 
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GERVÁSIO
 

Estávamos eu e Gervásio, o caseiro do sítio, arrumando a tralha de pesca pra logo mais quando me lembro das estórias que meu pai contava sobre pescaria. Eu, que estava ouvindo “Have you ever seen the rain”, tiro o fone de ouvido e pergunto pra ver a reação ele:

- Gervásio, e se numa fisgada dessas vier uma sereia, justo na hora que o pessoal do IBAMA vier chegando, a gente diz que é peixe e devolve ou diz que é mulher e tenta trazer?

Gervásio pega o canivete e começa a picar o fumo, pensativo... A palha na boca passa de um lado a outro numa habilidade impar. Vez ou outra para por alguns instantes, imóvel, olhar ao longe, remoendo o pensamento, voltando em seguida à rotina anterior.

E eu cá me divertindo com aquela cena...
Sem algo definido, arrisca uma resposta vaga:

- Uai, sô! Nesses “caso” assim carece duma intervenção mais apurada do caso.

Justina, mulher de Gervásio, que não andava muito feliz, e até já discutido logo cedo porque andava desconfiada das andanças do marido com uma tal lá da vila, inclusive afetando seu desempenho, resolve se enfiar na conversa e cutucar a onça:

- E lá você entende alguma coisa! Você não entende de merda nenhuma!

- Num vem ‘ocê dá palpite não muié – e partindo pra ignorância – e de merda eu entendo sim, já que casei com uma.

- Se entende de merda, me diz então, porque cabrito caga aquelas bolotinhas e a vaca aquela plasta mole.

- Isso é fácil responder e se você tivesse estudado como eu também saberia. É o seguinte: O Cabrito produz a Merdae Coccus, enquanto a vaca produz a Merdae Plastus. Eu como sou normal produzo Merdae Merdae, já você quando abre a boca só sai Merdae Cagantis.

Justina, já com o sangue fervendo de raiva, não deixa por menos:

- É só de merda que você entende mesmo, porque se entendesse de outras coisas eu não estaria aqui, subindo pelas paredes...

E Gervásio, com toda calma e segurança de um catedrático:

- “Intendo tumém”! Desde a estilo Clássica até a estilo Caramugina, a Everest, a Jamanta, Naja, inclusive aquelas...

Gervásio se abaixa quando uma panela passa voando por ele.

Eu volto a colocar o fone:
   “I Wanna know, Have you ever seen the rain?
    Comin' down on a sunny day?”