A MULHER DE LATA = EC

—Olhe o que eu trouxe de presente para você.

Matilde olha curiosa para a enorme caixa que Silvano carrega com dificuldade.

—Nossa! Que é isso?

—Adivinhe!

—Não sei. Não posso imaginar o que é esse presente tão grande. Uma boneca gigante?

—Quase adivinhou. É uma mulher de lata.

—Mulher de lata? Que brincadeira é essa?

Já abrindo a caixa Silvano explica:

—É um robô

—Robô? E o que eu vou fazer com um robô?

—Ora, este é um robô doméstico, por isso chama mulher de lata. Ela faz todo o trabalho doméstico, lava o chão, as louças e roupas. Rega até o jardim. Uma maravilha!

Matilde espia dentro da caixa entreaberta e tem um arrepio.

Uma bonecona de lata, cheia de fios pendurados está deitada dando a impressão de uma urna fúnebre contendo o cadáver de um ser extraterrestre.

Silvano põe a coisa de pé, ela tem quase a altura da Matilde e esta olha para ela com uma ponta de medo injustificado, afinal ela é apenas um robô.

—Segure ai que eu vou ligar na tomada.

—Matilde não tem ideia do que ela vai fazer quando for ligada e agarra-a com toda sua força.

Silvano liga e não acontece nada.

—Ué? Que será que aconteceu?

—Acho melhor ler o manual de instruções.

—Ah! Agora já sei. A gente liga, coloca o balde de água com sabão, fixa o esfregão na mão dela e ela lava o chão em poucos minutos.

Fizeram tudo certinho e nada.

—Será que já queimou? Será que ligamos na voltagem errada?

Matilde folheia de novo o manual:

—Aqui diz que tem um botãozinho na mão dela que precisa ser ligado quando tudo estiver pronto.

Acharam o botãozinho, mas quando ligaram a mulher se agitou com o esfregão na mão tropeçou no balde de agua derramando tudo e se pôs a esfregar a mesa as paredes toda parte, menos o chão.

Os dois ficaram abobados e só alguns segundos depois conseguiram desligar o fio da tomada.

Encostaram a mulher de lata em um canto, Matilde foi secar o chão e Silvano foi ler melhor o manual.

—Olhe aqui, amor, a gente tinha que baixá-la até encostar o esfregão no chão. Vamos experimentar de novo?

Matilde não gostou muito, mas aquiesceu:

—Vamos lá.

—Baixaram a coisa até o chão com o esfregão na mão, mas quando ligaram, ela deu um salto e atingiu Matilde que escorregou no chão ensaboado e levantou furiosa, puxando o fio com toda força e agarrando o rodo para enxugar de novo o chão.

Silvano pacientemente retomou o manual e acabou descobrindo que ela tinha que ficar com os joelhos apoiados no chão.

—Olhe aqui! Agora vai dar certo.

—Agora não. Acabei de secar o chão por duas vezes, levei um tombo e sei lá o que essa maluca ainda pode fazer.

—Poxa! Eu usei toda a nossa poupança para comprar este robô para você e parece que você não gostou do presente.

Matilde esqueceu todas as normas de boa educação e berrou:

—Toda a poupança para comprar uma porcaria dessas? E a nossa viagem no fim do ano?

Silvano está desapontado, achando que fez bobagem mesmo. Gagueja:

—A gente... pode deixar essa viagem ... para depois...

—Será que não tem jeito de devolver essa coisa?

—Ela é de fabricação artesanal... Um amigo pediu para um parente dele que conhece o fabricante que mora em outra cidade...

E a mulher de lata foi recolocada em sua caixa e encostada num canto do atravancado quarto de despejo, trancando-o mais um pouco.
 


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Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Mulher de Lata
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Maith
Enviado por Maith em 29/10/2012
Reeditado em 29/10/2012
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