O traidor da última FLOR DO LÁCIO!

Tentei de todas as maneiras ser das letras um escultor
Mas eis que me tornei de Shakespeare um mero professor
“Traidor da última flor do Lácio!” - acusou o meu executor
Tocou fundo, chorei, me senti um malfeitor

Mas sorri meio sem jeito, tentando um meio redentor
E para agradar a ambos, virei tradutor
Na poesia, sem muito talento, me tornei um rimador
Em algumas delas até me sentia um bobo sedutor

Mas ele falou ainda: “Transgressor!”

Tentando persuadi-lo mais uma vez, aquele opressor
Da liberdade que tenho de ser da cultura um provedor
E ainda humilde, meio tímido, num gesto alentador
Predispús-me a aquiescer o meu rancor

E continuei a amar a ambas com fervor
Escrevi e rimei - me entreguei às duas com amor
Mergulhei com a alma, para fazer a ele um favor
Mas ele exigia demais de mim, me deixando com pavor

E falou de novo: “Impostor!”

Quando vi que nada podia fazer contra o conservador
Sussurrei a Shakespeare e a Camões algo adulador
Mas num gesto obsceno e vil, como o de um vingador
Virei as costas a ele, com o dedo em riste, sem pudor

Ele foi embora, mas nas suas costas eu gritei!

Da liberdade tu és um matador! Não sabes tu que eu sou um PROFESSOR?
Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 13/02/2007
Reeditado em 01/06/2021
Código do texto: T379745
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