CRUELDADE FEMININA

Quando ela o viu pela primeira vez achou-o lindo, desejou tê-lo; foi amor à primeira vista. Ele era elegante, sofisticado, moderno, perfeito, um verdadeiro modelo.

Por algum tempo ficou de olho nele, admirando-o à distância. Pensou bastante até que um dia resolveu: - “Ele vai ser meu”. E assim, decididamente, foi ao ataque. Não sossegou enquanto não o teve só para si.

Como ela ficou feliz em sua companhia. Aonde ia levava-o junto. Nas festas, nos compromissos sociais, na boate, nos barezinhos, sempre lá estavam os dois, juntinhos. Não se largavam. Parecia que não sabia mais viver sem ele.

Ela tinha orgulho dele. Sabia que suas amigas a invejavam, o cobiçavam, achavam-no atraente. Se pudessem, elas o roubariam. Não poderia deixá-lo a sós com elas. Não queria correr o risco de perdê-lo.

Ele, às vezes, se sentia usado, mas jamais reclamou. Acompanhava-a sem protestar. Aniversários, casamentos, chás de panela, batizados; até no sex shop foram juntos. Ela ficou vermelha de vergonha ao ver aqueles brinquedinhos maliciosos. Ele não; agiu ao natural. Seu passo firme e decidido percorreu os corredores do templo do sexo sem relutar.

Mas, o tempo é ingrato e a beleza efêmera. Com o passar do tempo ele perdeu aquele charme inicial. Já não tinha o mesmo brilho dos primeiros tempos, surgiram as primeiras rugas. Mesmo as amigas já não o admiravam tanto. E assim ele foi caindo no esquecimento. Um dia, ela foi convidada para ser madrinha de casamento e, ingrata, decidiu que iria sem ele. Na verdade, teve vergonha de levá-lo junto. Pior, além de não levá-lo consigo achou que era hora de arrumar outro, que fosse mais novo, mais bonito mais elegante como era ele no princípio. Já pensou? Suas amigas morreriam de inveja ao vê-la com outro.

Dinheiro ela tinha, não se preocupava com isto. Achar outro era relativamente fácil. Afinal, ela era jovem e com muita saúde. Logo o esqueceria; ele seria uma peça do passado, apenas uma lembrança, nada mais.

Mas, a alma feminina tem suas crueldades, não há como negar. Ela, num gesto supremo de ingratidão, foi com ele na busca de outro. Levou-o junto. Pobre coitado, que humilhação. Sem remorsos ela entrou numa loja sofisticada e comprou outro sapato lindo, elegante e moderno e, exemplo perfeito de maldade: deixou o velho sapato usado na loja. Voltou para casa sem ele.

Ah! Essas mulheres.