Figura do google

ACONTECEU EM NOVA PARIS

A energia elétrica era o sonho dos moradores de Nova Paris, uma pequenina cidade perdida no mapa, quase desconhecida.
Já era praxe, cada vez que um novo prefeito era eleito prometia na sua campanha que se empenharia para que a luz chegasse até lá. “Os anteriores tinham prometido e não tinham feito nada, mas ele era diferente, tinha ótimos relacionamentos, boa vontade de servir, etc. etc...”.

Uma vez nomeado enrolava, dizia que não dependia dele, que a Companhia de Luz e Força não se interessava, bla, bla, bla...
Sempre as mesmas promessas, as mesmas desculpas e a mesma esperança adiada. Quem sabe o próximo prefeito...
E o tempo ia passando a luz de velas, lampiões e lamparinas.
Houve até um prefeito que conseguiu não se sabia como que os postes fossem colocados o que encheu de esperança a população.
O Zico da Venda, proprietário de uma das poucas casas comerciais da cidade onde vendia de tudo um pouco, abriu uma seção de eletrodomésticos, lâmpadas e material para instalação elétrica.
Conseguiu vender algumas peças, mas à medida que o tempo passava e os postes continuavam escuros e inúteis foram escasseando as vendas e ele acabou com o seu estoque encalhado.
Mas o tão esperado dia acabou chegando.
Depois de tanta espera, de repente, rapidamente os fios foram colocados, todo mundo se movimentou para fazer as instalações em suas casas, apareceram eletricistas de toda espécie, profissionais, amadores, curiosos, e o Zico da Venda vendeu até os últimos metros de fios, todas as tomadas e todas as lâmpadas.
No entusiasmo todos viraram eletricistas e fios foram esticados de qualquer jeito e tomadas ligadas sabe Deus como.
E chegou a grande noite. Assim que escureceu o povo reuniu-se na praça para ouvir o discurso do prefeito e aguardar o momento solene da ligação.
Dimas, o prefeito estava eufórico. Tinha conseguido a façanha. Dentro de alguns minutos a energia estaria ligada e a Nova Paris seria uma “Cidade Luz” quase tão “Luz” quanto a sua homônima europeia.
E deitou a falação:
“Senhores e senhoras! Nesta noite memorável em que me preparo para e permitir que a luz se faça, sinto-me como deveria ter sentido o Criador ao dizer: “Faça-se a luz”...” e por ai afora.
Assim que cerimoniosamente a chave foi ligada, a bandinha furiosa atacou um dobrado enquanto uma salva de palmas saudava o Prefeito.
As luzes das ruas acenderam, todas as casas iluminaram-se ao mesmo tempo e salvo pequenos acidentes com instalações mal feitas e pequenos choques sofridos por incautos, tudo foi alegria.
Mas, de repente:
— Fogo! Alguém gritou.
— Está pegando fogo na Prefeitura, um curto circuito!
O Prefeito, obeso e cardíaco tentou correr, mas caiu desmaiado e foi um corre-corre geral.
 Enquanto com dezenas de baldes de água alguns tentavam debelar o fogo, outros carregavam o Prefeito até sua casa e outros ficavam abobalhados sem saber o que fazer.
 — Cadê o Doutor?
— Lá vem ele correndo de maleta em punho com o jaleco vestido às pressas em cima do bermudão e da camisa do Corinthians.
Mas nada de grave aconteceu. O fogo foi apagado sem maiores estragos, e, quanto ao Prefeito, apenas uma queda de pressão facilmente normalizada, e agora sua única preocupação era:
— Será que este incidente vai repercutir na minha próxima campanha?
 
                                               663938.gif
 
 
Este texto faz parte de Criações Literárias ELETRICIDADE
Leiam os outros textos http://encantodasletras.50webs.com/eletricidade.htm


Obrigada pela visita e comentário
                                   
Maith
Enviado por Maith em 21/10/2011
Reeditado em 22/10/2011
Código do texto: T3289756