Menores infratores banqueiros¹

Apesar da situação ser dramática, e de ser um flagrante da vida real (aconteceu em 06/08/2010), resolvi colocar aqui na sessão de humor, porque não deixa de ser hilariante.

Aos fatos. Ontem (sexta-feira), pela manhã, uma cidadão estacionou seu carro em frente a um estabecimento comercial, desceu do veículo, andou em direção ao seu destino, mas antes de lá chegar, foi abordada por dois menores delinquentes. Um deles deu ordem para que ela lhe passasse o celular. Ela nem mostrava ter celular, pois seus aparelhos estavam ocultos pelo tecido opaco da bolsinha que guardava os dois aparelhos, de diferentes operadoras. Nem parecia capa de celular, pois esta só tem espaço para um aparelho.

O outro menor infrator a ameaçava, tocando-lhe as costas com o dedo ou algo pontiagudo, com intenção clara de fazer algo mais grave se a cidadã se recusasse a entregar a pequena bolsa.

A senhora, conhecedora das recomendações de segurança, não reagiu. Simplesmente entregou-lhe o minúsculo recipiente que continha os "telemóveis"².

Quando o "chefe" abriu a bolsa, que viu o modelo dos celulares (um deles era um Nokia 1100 "do tempo do bumba¹"; o outro não era menos arcaico), reagiu assim: "Sua rapariga³! Tome essa porcaria de volta! Não tem dinheiro nem pra comprar um celular de vergonha!

O assalto para mim foi um problema rotineiro. Agora o que me impressionou (já que assaltos deixaram de impressionar) é que os adolescentes faltaram com o respeito a uma cidadã de bem, pagadora de impostos, chamando-a de rapariga. A sorte dela foi gostar de usar modelos de celulares antigos, pois se fossem modernos, teria tido vários prejuízos: Os aparelhos seriam bem caros, estariam cheios de fotos de pessoas queridas ou de lugares, e a agenda estaria perdida.

Vivam os celulares antigos! Mas têm que ser maneirinhos, como era o caso dos que foram preteridos pelos "adolinquentes", que não roubam por necessidade, e, sim, para fazer o mal, para faltar com o respeito. Os modelos que deixaram de "ganhar" poderiam ser vendidos por mais de vinte reais, o que, transformado em pão, pode matar de indigestão. Esses não roubam para matar a fome. São maus por natureza. São uns perdidos.

(¹) Banqueiro: pessoa que bota banca. Botar banca é fazer-de de importante. Mas na minha terra, se estende a fazer escolhas, como se estivesse em posição para isso. Exemplo: Fulano botou banca, não quis comer o baião de dois, pois é comida de pobre.

(²) Telemóvel: Telefone celular, no português lusitano.

(³) Rapariga: Tem vários sentidos (donzela, moça rústica, feminino de rapaz). Mas aqui no texto o sentido é meretriz, que no Ceará pode ser fuampa, e no nordeste existe o termo "quenga" com o mesmo significado.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 07/08/2010
Código do texto: T2424789
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