Lá vai o ônibus completamente lotado, caindo aos pedaços, gente saindo pelo ladrão, os aproveitadores roçando na traseira das mulheres, isso em pleno horário de final de expediente... Ora, cheirar sovaco suado num ambiente fechado deve ser muito ruim, penso eu.

            Numa das paradas até que a carga aliviou um pouco.  Descera muita gente. Uma senhora grávida vislumbrou um lugarzinho no assento trazeiro, que cabia geralmente cinco a seis pessoas, mas fora mera suposição daquela pobre coitada, vítima da má educação do povo... Uns faziam como que não vissem, outros mudavam a direção do rosto e alguns ficavam a ver o que ocorria lá fora olhando pelas janelas. Mas isso não é novidade alguma, porquanto até com os idosos agem assim...

            Resolvera ela se aproximar e numa brechinha foi se sentando, se infiltrando, requebrando aqui, acolá, forçando a trazeira com muito jeito, num esforço fora do comum, até que conseguira colocar-se todinha naquela vaga apertadinha... Ninguém facilitara coisa alguma.

            Suada, falara aquela pobre mulher: -- Que povo mal educado, não respeita uma senhora grávida de seis meses, arriscada até a perder a criança de tanto aperto, ninguém oferece um lugar... Isso num país sério e de gente educada jamais ocorreria!

            Nisso, um senhor embriagado que estava no assento falara: -- É minha senhora, mas na nossa terra se pede licença com a boca!

Domínio público.