A venda de abraços

A venda de abraços

Em uma feira tradicional, em um sábado ensolarado, apareceu uma bela moça, portadora de todos os melhores dons físicos e simpatia que se possa imaginar.

Vendia abraços, conforme anunciava seu cartaz.

Sequer o vestido comportado lhe escondia os predicados expoentes e desejáveis.

Cada abraço custava R$ 0,10 (dez centavos de real), uma pechincha, que poucos se permitiam acreditar.

Passavam diante da moça. Olhavam e, ainda, olhavam em volta, achando ser uma espécie de chiste.

Era de se imaginar que se formaria uma fila imensa naquela feira de sábado,mas o que se via eram sorrisos de incredulidade.

A placa dizia claramente que cada abraço custava dez centavos de real.

Mas por que abraçar aquela deusa?

Tudo continuou nesta indecisão até que um corajoso rapaz, com modos de fanfarrão, aproximou-se da moça, sorriu e disse que queria dez abraços, afinal, não tinha dinheiro trocado.

Deu logo na moça um primeiro abraço e a moça olhava para ele e sorria.

Deu um segundo e um terceiro abraço.

Demorou no quarto abraço. Demorou mais ainda no quinto abraço.

Neste momento uma fila já se formava e alguns candidatos começaram a protestar com a demora.

O rapaz, então, perguntou à moça se havia tempo para abraçar e a moça disse que não, apenas que não poderia haver exagero.

O rapaz olhou em volta satisfeito. Deu o sexto abraço, o sétimo , o oitavo...

Vamos senão não haverá tempo para os demais , grita alguém na fila.

O rapaz que abraçava a linda moça nem deu atenção aos clamores gerais, parecia muito satisfeito e resolveu dar os últimos dois abraços, todos com muito carinho e efusão,mas com o devido respeito, é claro, pois tratava-se de uma estudante dentre um grupo de colegas que observava a cena, cuja finalidade era arrecadar verba para o diretório acadêmico da faculdade onde cursavam Psicologia.

Ao fim dos dez abraços olhou orgulhoso e muito feliz para todos, apertou a mão da moça e disse:

Foi um prazer fazer negócio com você. Até a próxima oportunidade. Tchau pessoal, disse aos demais sorrindo e entregou uma moeda de um real à conspícua beleza juvenil.

Voltou-se ainda para a moça umas três ou quatro vezes e tornou a agradecer-lhe, apertando sua mão cada uma das vezes.

Em seguida virou as costas e deu um passo para ir embora, sob os protestos dos demais , à espera de sua vez.

Neste momento a moça tocou-lhe as costas suavemente e ainda sorrindo apontou para uma parte dos cartaz, em letras menores que as do ponto onde constava o preço do abraço, em que dizia:

“Cinco reais cada aperto de mão”.

Moral da estória: não se deixe levar exclusivamente pelas suas emoções.

Carlos Munindra