Contam que lá pras bandas de Porões, uma cidade interiorana do nordeste, havia um time de futebol de várzea muito prestigiado pelos aficionados desse esporte, que é o mais popular em todo o Brasil.

            Invicto há mais de dois anos, não queria dar revanche à equipe do município vizinho, que perdera a última partida por quatro a zero, e ainda por cima levara um verdadeiro olé.

            Treinada pelo competente Cotó, um rapaz das redondezas que entendia do riscado, ia batendo todos os adversários que se metiam a sua frente, entretanto era um time caseiro, não gostava de excursionar.

            Cotó também era bom de bola, todavia se sacrificava na função de técnico para colocar em campo atletas mais novos, porquanto ele já estava calejado de tantas idas e vindas pelos mais distantes rincões da região nordestina.

            Até que acedera. Decidiu-se pelo tira-teima. Marcaram a partida para o domingo próximo, que era o dia da comemoração de mais um aniversário da padroeira local.

            Estádio repleto, entrada grátis, a prefeitura patrocinara, times em campo, bola rolando. Zero a zero no primeiro tempo, mas o adversário estava jogando bem melhor, tanto que perdera várias oportunidades de gol, pelo menos umas três.

            Lá por volta dos 39 minutos do segundo tempo, numa jogada infeliz do zagueiro Cioba, de Porões, os visitantes abrem o marcador com um gol de bicicleta de seu atacante Muçum.

            Cotó olhou pro banco de reservas e não vislumbrou quem pudesse entrar e pelo menos igualar o placar... Afinal seria a sua primeira derrota à frente da equipe.

            Imediatamente, e sem titubear, vestiu o uniforme tricolor e entrara em campo, a fim de substituir o centro-avante, que não andava bem. A torcida foi à loucura com a entrada daquele misto de treinador-jogador. Todos os ingressos haviam sido distribuídos.

            Ao apagar das luzes, aos querenta e quatro minutos, eis que um escanteio é marcado para o time local. O ponta direita, que viera de João Pessoa para reforçar o time, tal de Gancho, encarregou-se de cobrar. A expectativa era geral, a torcida estava tensa. Perder aquele jogo seria gozação para o resto do ano... Gancho era especialista em prender os adversários, ninguém passava por ele, a bola sim, mas o cara não!

            Autorizado pelo árbitro, mandara uma bola à altura da entrada da pequena área, mesmo na cabeça do pequenino Cotó. Com muita classe ele enfiou a bola no fundo das redes adversárias... a torcida foi ao delírio. O árbitro validara o gol, nada de anormalidade na jogada.

            Cercaram o apitador. Alegavam que o gol fora com a mão, aquilo era um roubo, ninguém voltaria ao jogo, sairiam de campo...

            É que quando a bola se ofereceu à cabeça do grande artilheiro, que não tinha boa altura, e era perneta, com toda a sua experiência, levantou a sua muleta e com firmeza dera o toque de misericórdia, empatando o jogo.

            Foi de mão seu juiz, o senhor está cego, protestavam. De agora em diante só jogaremos com juiz neutro, daqui não dá certo... E o Cotó, morto de contente, respondia: “Mão uma ova, e mostrando sua muleta... isso aqui é meu pé”. No que corroborou a autoridade da partida... bola ao centro...

            Quem poderia afirmar, com certeza, de que aquilo não fosse o pé do atleta? Eu não me arriscaria... Gol legal.

            Mão fora aquela do jogador francês nas eliminatórias da Copa do Mundo deste ano, que nem mesmo a FIFA reconhecera.

 

Fico por aqui.

Um abraço.


ansilgus
Enviado por ansilgus em 05/02/2010
Reeditado em 16/02/2010
Código do texto: T2070500
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