O BANHO DA EMPREGADA

Impossível imaginar o que pode se passar na cabeça fértil e inquieta da minha mãe. Dona de uma criatividade sem limites e uma ironia fina, é capaz de reagir de forma extremamente inusitada e bem humorada frente a problemas que a maioria das pessoas levaria um bom tempo para decidir o que fazer. Conheço inúmeras situações em que ela agiu de forma acertada e pontual diante de fatos incomuns.

Certa vez, quando meu irmão mais novo e temporão tinha uns dez anos ou menos, ela se viu diante de um fato difícil de ser resolvido.

Meu irmão tinha inúmeros amiguinhos de faixa etária semelhante, uns mais e outros menos idade que ele. Naquela época a meninada costumava juntar-se em nossa casa, pois minha mãe, sempre atenta, procurava vigiar a turma e ocupá-los com algo interessante antes que “inventassem uma moda”.

Pois não é que, uma tarde, ao chegar em casa, viu de longe uns três ou quatro deles juntos com meu irmão, deitados no chão e olhando pela fresta enquanto a empregada tranqüilamente tomava seu banho para ir embora?

Assim que perceberam a inesperada presença da minha mãe, os meninos se levantaram e tentaram disfarçar o mal feito. Ciente de que devia dar uma boa lição em todos de maneira definitiva, minha mãe não teve dúvidas. Juntou os meninos e perguntou:

-Por acaso está certo o que vocês estavam fazendo?

Eles baixaram os olhos em resposta silenciosa.

-Vou explicar a vocês uma coisa –disse ela- mandando-os se sentarem em volta da mesa da cozinha e já oferecendo um refresco seguido de um pedaço de bolo.

-Não é errado ter curiosidade a respeito do corpo de outra pessoa! É natural e não seria por isso que eu iria zangar-me com vocês! Podem ficar tranqüilos - disse ela-.

Os meninos continuavam envergonhados na expectativa do que ela poderia, então, explicar.

Ela continuou serena:

- O que considero errado é vocês fazerem isso sem a autorização da pessoa em questão. A moça estava inocente, sem saber de nada e vocês olhando-a, escondidos. É isso que não concordo! E acho muito feio. No entanto, sei que vocês estão curiosos em saber como é o corpo de uma mulher, e eu poderei ajudá-los nisso.

Interessados, arregalaram os olhos e se entreolharam com surpresa.

Num repente de extrema habilidade e, digamos, coragem, ela falou:

-Quando uma pessoa sabe que está sendo observada e permite isso, não existe mal nenhum em fazê-lo! Por exemplo, sabendo dessa curiosidade de vocês, eu me ofereço para tirar a roupa e deixar que vocês me olhem à vontade! Eu vou andar de um lado para o outro e vocês vão ver tudo o que quiserem. Combinado?

Bem, as crianças não eram tão pequenas a ponto de não saberem que isso seria uma vergonha para elas. Imediatamente recusaram a “oferta”, sob os olhos apavorados do meu irmão, que logo saltou e disse:

-Não mãe! Nós não queremos isso não! Por favor!....

E ela, deliciando-se com o “aperto” deles, insistia divertidamente:

-Não! Eu faço questão... Vocês não querem saber como é?...

A criançada logo se dispersou e foi “saindo de fininho” disfarçando o desaponto. Meu irmão, então, foi o primeiro a dispensar a ”tchurma”....

Perguntem-me se a meninada se reuniu lá em casa para novas aventuras nesse sentido!

NUNCA MAIS!..... 09/01/2010