A Reforma

Mais um ano se foi e nós deixamos para trás tantos frutos, tristezas, fortunas e angústias. E já iniciamos o ano com um crime, um assassinato para ser mais preciso. O dos acentos, tremas e hífens. É neste ano que o “um, dois, três... valendo” toma forças para se levantar e contaminar as línguas.

Lembro como se fosse ontem. Estava eu sentado na sala de aula jogando toda minha atenção no quadro para ver se finalmente entenderia a complicada salada de frutas que é a regra dos acentos. Se terminar com isso não vai aquilo, se terminar com aquilo aí sim vai isso. E depois de tantos erros, tanta dor de cabeça, finalmente aprendi como se acentuam as palavras. Agora me pergunte “para quê?” Tanto esforço em vão. Um crime assim com a nossa língua não é admissível. Devem prender quem inventou isso. Tanta preocupação em como agora se vai comprar lingüiça (ou linguiça) no mercado. As metidas das letras k, w e y finalmente ganham seu greencard brasileiro e tornam-se legítimas. Alguns hífens levam tombos e caem aqui e ali. O meu Word, coitado, está maluco, já largou mão de corrigir a digitação.

As boas línguas, espalhadas pelo território, dizem que temos três anos para se adaptar a essa loucura gramatical e a dica que nos dão é que nos adaptemos o quanto antes, assim não passaremos por eventuais quebras de lápis e canetas. Com coisa que eles realmente estão preocupados com isso. Em minha opinião leiga, afirmo de pés juntos que, nesse angu tem caroço. Imagina o quanto as editoras gastarão com a reescrita. Pense, os livros didáticos já eram. E os dicionários?

Tudo isso apenas para aproximar a nossa língua com a dos ‘portuga’. E quem foi que disse que nós queríamos isso? Estamos há muito tempo independentes desse povo. Mas precisavam mexer onde estava pronto. Para quem ainda acha que essa artimanha é do nosso atual presidente, coisa que não me surpreenderia se fosse, está enganado. Essa reciclagem já estava planejada tempos atrás. O coitado do presidente apenas disse: ‘um, dois, três... valendo”.