Tema para outra história

Já se foi o tempo em que o meu computador era melhor do que o do vizinho. Agora, coitado, está lá no canto do quarto, parecendo àquelas antigas máquinas de datilografar. Computador tem sentimento. Emociona-se fácil,percebi quando chegou o novo computador em casa. Compacto, todo preto, pequeno, rápido. Era a novidade da casa, só queriam usar o novo, apreciar de sua rapidez. Enquanto isso, o pobre e lerdo computador fica às escuras, esperando que alguém o lembre e tenha a coragem de ligá-lo. Quando isso acontecia, ele aproveitava para se vingar. Travava o tempo todo, e quando não fazia essa mazela, esperava terminar as digitações para se desligar sozinho. Mas o tempo foi se passando e um dia aquele que era novo tornou-se velho e aquele que era velho tornou-se extinto. Ninguém recorda que um dia, o senil computador havia ajudado em trabalhos, buscas e trapaças. Confesso que só ainda está no meu quarto porque não há outro lugar para ele terminar a sua vida. E acredite que não vai demorar muito para criarem um asilo para esses computadores. Se há asilo para animais, por que não pode existir um para computadores? Gosto do meu antigo, mas convenhamos, não é possível ter uma vida digital com um daqueles. Mas voltando, computador tem sentimento. Coloque-se no lugar dele, você não gostaria de viver excluído. Ouvir frases como "esse não acessa, é lerdo

demais", "nem tente nesse, vai ficar um década só para abrir", faz ferir o coração, ou melhor, o HD. Só que não há outra alternativa, ou você troca ou você sempre viverá atrasado, ainda mais em um mundo em que o que conta não é mais o seu RG, e sim o seu perfil em sítios de relacionamento, seu espaço seja lá onde for. Mas isso é tema para uma outra história.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 18/12/2008
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