É o fim do mundo

"É o fim do mundo! Pronto, tudo está consumado". Aurélio era desses rapazes bem preocupados com o seu futuro e tirar uma nota daquelas significava o fim de tudo. Tantos ano de aprendizado, gastos com uma escola que lhe garantiria um bom estudo, não valeram de nada. Todo o seu conhecimento e esforço de tantos anos se resumia a uma mísera nota, baixíssima por sinal.O que seus pais pensariam? Seria uma cicatriz na família. Já estava preparando as malas, porque com uma nota dessas seria expulso de casa. Os vizinhos perguntariam "onde está Aurélio?" e seus pais diriam que estavam confudindo, eles nunca tiveram um filho com esse nome. Tinha que mudar de bairro, cidade, estado, país, e se possivel, de galáxia. Einstein, Roosevelt, Machado de Assis, sentiriam vergonha. Aqueles parentes intrometidos diriam "bem que eu avisei, nunca o vi estudar". O pior desses parentes é que na maioria das vezes estão certos. Aurélio nem se quer pegava em um livro. Confundia o dia da Independência com o da Proclamação da República, isso quando não trocava os eles por erres. Esforço de tantos anos? O único esforço que tinha era o de exercer o movimento retilíneo uniforme sobre os avinhõezinhos de papel. Os únicos gastos eram os do bolso do pai, que trabalhava para multiplicar, somar e dividir seu dinheiro. A única química que existia era a dele com a Maria, mas essa era esforçada, tanto que conseguiu passar. Estudava anatomia, no corpo da Marisa. "Aqueles peitões!" Nas mãos dele, Hitler e Sadan Hussen eram a mesma pessoa, José de Alencar vira Joaquim de Alencar Assis, a fórmula de Bhaskara foi desenvolvida por Pítágoras e defende a tese de que não devemos preservar somente o meio-ambiente e sim todo ele. Mas Arélio é somente mais um desses tantos outros que esperam o conhecimento cair em suas cabeças, com a esperança de quem sabe um dia conseguir uma vaga na universidade.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 17/12/2008
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