Mãe Adelina!

O horizonte lento a trazer a madrugada, e antes da aurora se anunciar, o som do assoalho de madeira rangindo, já avisa que ela já está em pé com a roupa de guerra, e que é hora de sair da cama. E antes da decisão de se espreguiçar, e dar mais um cochilo ecoa o chamado de Mãe Adelina, que no som da voz do seu dialeto em alemão traduz que se haver segundo chamado, será diferente. A passos lentos os filhos vão arrumando suas camas. Na cozinha diante o fogão a lenha, já pôs fogo, e o fogo range as taquaras, o cheiro de querosene com a primeira fumaça toma conta do ambiente, a chaleira com água para fazer o café, e uma panela grande com feijão, para a feijoada para o meio dia já estão por sobre a chapa que vai aquecendo.

Enquanto os filhos se juntam para o paiol que coberto com telha côncava, iniciam os trabalhos para os verdes e as raízes para tratar dos animais que estão em seus estábulos. E as vacas impacientes diante a porteira em meio ao banhado, devido à chuva forte da noite anterior, vão procurando cada uma seu cocho, que abastecido do trato, e a mãe Adelina se acomoda para ordenhar cada uma, com sua caneca de alumínio em mãos, e do lato um jarro maior. Aos fundos a espionar o gato Pelé seu xodó, que fica ao longe sabendo para não se aproximar perto das vacas que logo ganha um pouco de leite em sua cuia de porongo. De volta para a cozinha, Mãe Adelina ás pressas a pôr as louças sobre à mesa, e enquanto a frigideira untada com banha de porco esquenta sobre a chapa, já corta fatias do pão caseiro, pra mergulhar em ovos mexidos e fritar.

No estábulo o alvoroço, os porcos já correndo para o pasto e se fartar sob os pés de pera abacaxi que caíram na noite por estarem maduros ou pelo balanceio do vento, vão apartando os terneiros para o cercado menor, e tocando as vacas para o pasto grande pela ponte sobre o Rio Mundéus, que cheio toca as vigas de sustentação e chora ao descer a cachoeira e cair dentro da barragem.

A Mãe Adelina já tem passado o café, e tudo está preparado à mesa, quando todos se assentam, e o sol ainda vem tímido pintando de dourado os morros. Enquanto lava a louça acresce mais lenha, e coloca mais água na panela do feijão, e passa a mão na enxada, que vai no ombro e partem a caminho da roça. Depois de algumas pernada, a carpir o milharal que verdejante brilha pela encosta, e abelhas a mil por hora no zum zum voando pelas flores que estão a se abrir.

Dentro do trabalho árduo, prosas e histórias que fazem o tempo passar e antes que o relógio anuncie onze horas, horário das flores se abrir, a pernada de volta para casa, pra preparar o almoço segue acelerado com o pensamento nos ingredientes a usar para o cardápio para o almoço de uma quinta feira de um ano com eclipse total da lua. A referência para saber do horário do almoço, quase sempre baseado no ônibus escolar que vinha a circundar pelas curvas da estrada de terra pela lateral da barragem. E chegando em casa tudo já estava preparado, assim como... Na tarde, e na noite, Mãe Adelina sempre a líder, a prospectar em prol de sua família.

No hoje fica uma saudade, Mãe Adelina em memoriam, os irmãos cada um com sua vida, restam as lembranças de encher um oceano de lágrimas, e um conto por eu ser um escritor, que molda as escritas com os cheiros das comidas, dos anseios, do sorriso tímido, dos sonhos e de toda uma humildade... Mãe Adelina – guerreira!

Mestre das Letras
Enviado por Mestre das Letras em 15/04/2024
Código do texto: T8042239
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