A notícia que acabo de receber do passamento de Alexandre Vivacqua me entristece, profundamente. 

Primeiro pela impossibilidade de ofertá-lo uma última homenagem, ainda que num toque sutil, em despedida; e, segundo, pela figura singular, única, extraordinária que o mundo se despede.

Inteligência e sabedoria lhe eram peculiares. Raro era, afinal a maioria é só inteligente.

Não havia um assunto sequer, do qual, não tivesse domínio lógico, visão equilibrada e atenção sincera. 

Como mestre, umnprofessor honrado e sonhador (por vezes, lunático), na prática daquilo que fazia com amor, tornou-se para mim um exemplo de dedicação, conhecimento compartilhado e humildade na pele. 

Disse-me, certa feita, que admirava a minha habilidade em administrar meu ponto de vista com ternura, sem imposições metodológicas e com o cuidado de quem acolhe, absorve e ressignifica.

- "Você não tem compromissos com erros, menina!"

Não tenho palavras que ouse utilizar nesse momento de pesar, que representem o meu respeito, admiração e eterna gratidão. 

Um mestre singular que na humilde concepção de si, dizia-se apenas alguém que viveu um pouco mais... Nem tanto, nem tampouco.

Eis, pois, minha última conversa contigo, agora com o silêncio das reticências, que o representam com maestria, para dizer-lhe o quanto foi amado, respeitado e sempre será lembrado...

 

- Oi, mestre. Saudades de suas longas reflexões em tempos de justificativas líquidas que escorrem conforme o alvo!

- ...

- Espero que agora esteja bem melhor, num lugar onde a justiça reine sem as facetas de uma lei pobre, sem destino.

- ...

- Certamente foi recebido com honrarias nesse nosso mundo de encontros. Decerto, o amor ao próximo foi a mais importante atitude que tomou na vida. Isto lhe contou pontos? Tem um quadro aí com as vezes que me fez feliz. ao dizer coisas simples, como, minha "cronista preferida". Ah, nunca fui. Mas se o era pra você, era o bastante.

-...

- Quando puder, olha aqui pra baixo. Continuo remando contra a maré. Tendo altos e baixos, e desistindo aos poucos de entrar em guerras desnecessárias. Sou vitrine! Já sei, tenho que montar direitinho o pano de fundo, usar com parcimônia a decoração e mostrar o que verdadeiramente importa.

-...

- Vez ou outra te repito, quem nunca copiou, nem veio ao mundo.

- Risos... (gargalhadas)

- E quando eu tiver saudades. Vou reler tudo que deixou registrado nesses anos em que nos tornamos amigos e continuaremos.

- ...

- Vê se cuida bem dessa capacidade de mudar a nossa vida com toques sutis de sapiência. Você faz falta. Você é falta. Mas jamais se prendeu a nada, menos ainda a este mundo... Vai com os "quês" enquanto assumo os "por quês". Poxa, por que nem me avisou que faria sua última viagem?

- Eu fugi, querida Mônica. Odeio despedidas... E elas me perseguem... (im memorian)

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 02/04/2024
Reeditado em 02/04/2024
Código do texto: T8033373
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