HOMENAGEM PÓSTUMA AO AMIGO ALMACHIO

“Acreditamos ficar tristes pela morte de uma pessoa, quando na verdade é apenas a morte que nos impressiona”

Gabriel Meilhan

Passei algum tempo tentando encontrar palavras que traduzissem o meu sentimento de surpresa, até de torpor em tomar conhecimento de que o amigo Almachio Paulo Gonçalves, o Lorde para os mais íntimos, fez a sua passagem de maneira discreta, nobre e silenciosa. E Almachio se fez história, se tornou saudade, se fez etéreo para nunca mais voltar. Estamos nos perguntando sem obtermos respostas: por que hoje? Por que agora? Muito embora, que hora de ir embora, inexiste, porque toda hora é hora de partir, de findar a carreira, hora derradeira de um adeus para sempre...Foi exatamente isso que aconteceu com a partida súbita do querido amigo de todos nós, os aeronautas e colegas da Cruzeiro do Sul e da Varig. Estamos de luto. Até agora estou procurando algo que me situasse ao início, ao começo de tudo quando Almachio fora vida, alegre, comunicativo, envolvente, o ponto de partida para as suas conquistas, a realização dos sonhos. Algo onde definisse a ideia apaziguadora e, ao mesmo tempo, superasse obstáculos. Bom, definida a meta alcançada por este nobre guerreiro, não me foi difícil alcançar o tema central desta elegia: a morte. Mas o que é a morte? Qual é o seu real significado? É o deus Hades portando a medida do tempo e uma foice? Uma sombra escura que nos ronda a todos nós? É uma medida aparente que se situa na periferia de uma calculada gaussiana? É a ferocidade animalesca indo ao encontro de sua presa e mesmo que essa presa se esconda, se desespere e tente driblar a fatalidade, sempre será alcançada?

Enquanto Willian Randolph Hearst o bilionário que transferiu mosteiros medievais para os Estados Unidos da América, proibiu que se usasse essa palavra, morte, na sua presença. Filipe II, rei da Macedônia e pai de Alexandre, o Grande, ao contrário, chegou a designar um empregado para que diariamente lhe dissesse: “Lembre-se, Filipe, de que você vai morrer”. Mário Quintana dizia em seus escritos memoráveis: “Morrer, que importa? O diabo é deixar de viver”. Dando a impressão que deixar de viver era um problema maior que a própria morte. É como se o real sentido da vida não existisse porque não há sentido uma vida sem sentido. Almachio passou por todos esses questionamentos que se nos assomam sempre que ficamos chocados com o sono eterno de um ente querido que parte. Almachio foi muito querido, foi o Lorde que circulava entre nós com nobreza e elegância, afinal, nasceu na terra dos imperadores e princesas da nossa história: Petrópolis. Agora, nesta hora do ocaso que antecedia a sua partida, dedicara-se à pintura, retratando figuras perdidas no tempo, embevecidas com a arte de viver. Almachio deixou vida em suas derradeiras horas de uma sublime inspiração. Como é complicada a tarefa de definir vida, vida que segue? Ou vida que persegue ou até prossegue? Será possível defini-la estando vivo? O que se pode dizer, sobre a nossa ousadia em definir morte estando vivo? O certo é que o nosso eterno amigo, amanhã será submetido à fornalha da cremação, submetendo o corpo inerte à “cinza fria”, nunca mais será visto em nossas reuniões, em nossas andanças de saudade, onde estará sempre faltando um. O nosso verdadeiro Almachio tem um destino certo: o Caravelli com o prefixo PDX, o mesmo que ceifou a vida do Comandante Alexandre, do Comandante Soter, Rocha, Clodomiro e a eterna Nilzinha, levará o nosso amigo até à eternidade sem fim. Cabe-nos a todos nós utilizarmos “duas armas para superar o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. Ingredientes para enfrentarmos essa dura e fascinante tarefa de viver”. Ariano Suassuna

Descansa em paz, querido amigo.

clira
Enviado por clira em 04/12/2020
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