Delba, adeus

A serenidade da fisionomia de Delba trai aquela nossa impressão comum, tão arraigada, de que a hora da passagem é tenebrosa, medonha. Verdade que Delba não está risonha, mas a doçura que teve em vida, ao longo de mais de nove décadas, segue estampada em seu rosto nest hora pungente do adeus.

E lá se vai a educadora, a filha, irmã e tia devotada que tantas belas lembranças nos deixa como marcas indeléveis de sua existência. Uma singela consulta à caixa de mensagens eletrônica do grupo dos marmanjos e pra lá de sessentões hell´s angels sem motoca, de Pitangui, dá bem a noção de quão querida Deba foi, é e será. Ex-alunos, amigos, conhecidos e familiares dão seu depoimento candente daquela que lhes iluminou os passos, abriu-lhes os caminhos, e continuou a orar e a obrar por uma boa causa, e até por rebeldes sem causa...

Estive em sua companhia um par de vezes há coisa de 5 anos. Sua mana Zulma - que também nos deixou há alguns meses - mais extrovertida, estimulava e conduzia a conversação, geralmente em torno das descendências, dos feitos e fados da existência. Mais contida, Delba assentia no que a irmã dizia, quando observação mais judiciosa não fazia.

Essa família, de origem na Onça de Pitangui, muito trabalho prestou no domínio da educação, da cultura, do cultivo - além das belas e insuperáveis couves - da amizade franca e sincera. Um tio de mamãe, já bem ancestral, o Messias de Freitas, de Martinho Campos, que por um tempo viveu no Beco dos Canudos, numa peleja tamanha para criar a filharada, de tão grato à família dos Bilas, Seu Neném e dona Sílvia,

homenageou à benfeitora dando nome de Sílvia à filhinha que nasceu de sua união com Dona Percília, em 1952. Pronto, agora que revelei a idade da prima, digo que segue bonitona e sedutora...e viajante inveterada por este mundo de Deus, dos crentes e dos ateus, que, indiscriminadamente são filhos seus...

Vai, Delba, gozar o merecido e perpétuo repouso segura de que sua vida valeu a pena e que a pena que nos deixa, a gente nem se queixa, é amena, é serena...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 03/04/2017
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