MARIE-LOUISE *

Em memória de Henri Michaux

Sinto me deslocado da realidade.

Não sei onde me colocar.

Não sei como me comportar.

As lanças se voltaram contra mim.

Trespassaram meu corpo,

mas ainda não me considero vencido.

Sobre minhas pernas curvas e finas,

sonho ser vitorioso e de alma nostálgica.

Lanço-me no espaço que me bebi,

sem sabor, e, sem me interessar.

O mesmo olho que me segue

banhado em sangue,

me vê em mil pedaços quebrados.

Às vezes sinto-me sólido, rígido...

Outras vezes me liquidifico em lágrimas.

Transformo-me em bolhas para sonhar,

ou em flocos de espumas me vejo a bailar.

Apoio me no muro que há entre nós

e como as lianas tento lhe agarrar.

Constantemente me vejo em quedas

como Meidosens vindos do céu,

pelas altas tempestades em minha vida.

Quem fixaria seus olhos no ar,

ao me ver caindo, senão os mais chegados?

É difícil viver assim, caminhar assim...

Talvez seja mais interessante viver às sombras

e manter um falar torto e obscuro.

Isso poderia ser um pouco mais seguro.

O fato é que me fragmentei e me desfiz,

com o mesmo fogo impiedoso da lareira,

que terrivelmente roubou me Marie-Louise.

Seu corpo tão jovem, tão bonito e perfeito,

foi beijado pelas famintas chamas,

que a tirou de mim, para sempre.

É difícil caminhar assim, é difícil viver assim...

Os Meidosens quando feridos sofrem, intensamente,

sobre suas pernas curvas e finas.

Talvez seja mais interessante,

transformar me em bolhas de espumas

banhadas de sangue, ou quiçá (?),

em um olhar liquidificado em lágrimas.

Lágrimas de paixão e profunda dor,

por me faltar meu bem maior,

por me faltar o amor de Marie-Louise.

Nova Serrana (MG), 21 de setembro de 2011.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 16/02/2017
Reeditado em 04/06/2017
Código do texto: T5914329
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