homenagem póstuma a ivanildo - céu

“Mortem non timeo”

A Páscoa de Ivanildo Farias.

Hoje, navegando pela internet, distraidamente absorvido por mensagens de pouca ou muita valia, fui pego pela notícia do falecimento de uma expressiva figura da sociedade bezerrense que nos deixou – Ivanildo Farias - CEU -. Já não pertence mais a este plano terrestre. Apesar da distância, daqui tenho acompanhado com tristeza a partida de alguns conterrâneos. Todos indo embora assim, alguns ainda cedo, outros ainda em plena atividade, com tanto ainda para viver. E mesmo assim, atendendo ao chamamento divino, muitos acabaram viajando. É muito triste a gente ver um ente querido partir. Sempre sentimos a perda de um grande amigo.

Entre amigos eu pergunto: para que serve um amigo? Para um bate papo na esquina, emprestar um livro escolar, recomendar um filme, participar de uma festa esbanjando alegria entre amigos, caminhar pelo campo, segurar a nossa barra quando está pesando justamente do nosso lado. Todas as alternativas estão corretas, mesmo assim essas coisas não são o bastante para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Ralph Waldo Emerson afirmava em seus escritos que a glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você. O verdadeiro amigo é aquele que testemunha o nosso passado, tornando-se nosso espelho, que através dele podemos nos olhar. Através da amizade firmamos aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. A amizade entre as nossas famílias Lira e Nascimento remonta a muitos anos, confunde-se através dos tempos, alcança a eternidade onde muitos dos nossos encontram-se agora, inclusive o nosso pranteado Céu. Este homem que nos deixa agora, sempre preservou a tradição herdada de seus pais, inclusive foram meus padrinhos de batismo. Homem integro, capaz de grandes gestos sem ostentação, discreto, ele oferecia a mão direita não permitindo que a mão esquerda olhasse. De poucas palavras, Céu foi o exemplo da discrição. Sou testemunha da grandiosidade deste homem de Deus quando estando eu em Bezerros, hospedado em casa de meu amigo irmão Jarbas, tive a notícia de que minha mãe estava hospitalizada, em estado de coma num hospital do Rio de Janeiro. Entrei em desespero, resolvi retornar imediatamente para firmar presença naquela dolorosa provação. Naquele fatídico domingo, Carminha e Céu iriam me oferecer um almoço. Em um gesto de compreensiva fraternidade, Céu foi prestar solidariedade à minha família, representada por minha pessoa. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades em período de teste, não formadas pelo tempo, sem saber se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridas numa chuva de verão. Fica na expectativa. Um verdadeiro amigo não se limita tão somente em segurar a nossa barra em momento de crise: ele divide lembranças, pode até chorar, o mais importante, ele amealha experiências. Divide a culpa, conserva segredos...

Um amigo não se restringe somente no bate papo. Empresta verbo, oferece o ombro amigo, não limita o tempo, dedica o seu humano calor, ele oferece um casaco contra o frio de inverno.

Um amigo não só esbanja alegria. O seu exemplo nos contagia, recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um verdadeiro amigo não nos recomenda apenas um filme. Ele nos leva ao mundo dele e topa conhecer o nosso mundo também.

Um verdadeiro amigo não empresta somente um livro escolar, ele passa contigo um aperto, participa contigo das orações na igreja, desfila nas procissões ou caminha contigo mascarados nas festas do papa angu.

E Céu foi tudo isto, muito mais ele foi, ele sabia andar em silêncio na dor, entrava contigo em campo, conseguia sair do fracasso ao teu lado. Soube segurar a mão do sofredor, em nome de Jesus, respeitou as ausências, segurou uma confissão, segurou o tranco, soube compreender o palavrão, segurou a dor do irmão que padecia.

É difícil colecionar amigos deste naipe, às dúzias. Se tiver um, amém. Graças a Deus tivemos este ser chamado Céu.

Neste momento de dor uno-me à família enlutada, envido minha solidariedade principalmente à Carminha, exemplo de mulher, de amiga e de esposa.O melhor amigo terá provavelmente também a melhor mulher, porque o bom casamento residente no talento da amizade. (Nietzsche) Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 29/03/2016
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