Homenagem de minha filha para nossa gatinha

Querida gatinha,
Eu ainda me lembro do dia em que te vai pela primeira vez. Tão pequena e frágil... E sua mãe simplesmente não conseguiu encontrar um lugar melhor para dar cria além do meu guarda roupa, né? Algumas de minhas roupas ficaram arruinadas, mas valeu à pena.
Querida gatinha, você foi crescendo com seus irmãos e logo não podíamos cuidar de todos. Você foi a escolhida para ficar. Eu queria ficar com vocês todos, mas mamãe não deixava. Era muito trabalho.
Querida gatinha, eu queria ter te dado um outro nome, mas meu irmão e eu, como sempre, não concordamos com os nomes que queríamos. Pra não dar briga chamamos sua mãe de gata mãe e você de gata filha - ou gatinha, para encurtar. Muito original, mas se você não gostou, nunca reclamou.
Querida gatinha, embora você já fosse considerada adulta na idade dos gatos, você sempre foi pequena. Menor que sua mãe e os outros gatos. Mas eu acho que faz sentido, você era "gatinha", afinal.
Querida gatinha, eu me lembro de uma época que você me acordava às cinco da manhã, pedindo comida e ai de mim se eu não concedesse! Você tinha jeitos de me fazer levantar. Miava sem parar, passeava em cima do meu corpo e até arranhava minha cabeça. Como era persistente, essa gatinha. Me dando por vencida, eu ia até o andar de baixo para te alimentar, me sentindo como mães sendo acordadas por seus bebês de madrugada.
Querida gatinha, ao contrário da sua mãe, você era bem mais afetuosa - até demais às vezes. Eu não podia passar na sua frente sem você ordenar que te desse atenção. Vinha dormir na minha cama e chegava perto demais. Por esses motivos começamos a te chamar de "sarnentinha" ou de sem vergonha. Espero não ter te magoado te chamando assim. Era só brincadeira, você sabe que nós te amávamos mesmo assim.
Querida gatinha, na hora eu não entendi porque, mas seus olhinhos começaram a lacrimejar sem parar de repente. Não apenas isso, suas pupilas estavam dilatadas mesmo de dia. Quando a levamos no veterinário, descobrimos que você tinha ficado cega e só enxergava de 25 a 30 por cento do que deveria. Acho que isso te deixou deprimida e por isso não queria ficar perto de mim. Você achou que eu não te amaria mais se você não estivesse enxergando? Desculpe se fiz algo para faze-la sentir desse jeito...
Querida gatinha, para te animar, comprei saches especiais para você ao invés daquela ração dura. Coma e fique boa logo, está bem? Vou continuar comprando até você melhorar!
Querida gatinha, por que suas unhas estão caindo? E que feridas são essas que estão aparecendo? Espero que não seja nada grave.
Querida gatinha, eu vou passar alguns dias fora na casa da minha amiga, em outra cidade. Você sabe que como ela se mudou eu só posso vê-la nas férias... Mas a mamãe disse que vai te levar no veterinário segunda-feira.
...
Querida gatinha, mamãe me mandou uma mensagem depois da sua ida ao veterinário. Como assim você está com virose? É muito grave? Estou voltando amanhã para te ver!
A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi ver minha querida gatinha. Você estava pior do que eu pensava. Estava mais magra, com mais feridas e quase não tinha unhas. Quando andava, às vezes caía. Coloquei você no meu colo e te acariciei como sempre fazia. Gatinha, você estava aguentando isso, me esperando voltar...?
No dia seguinte a veterinária veio te ver. Perguntou se eu estava bem e falei que sim, mas só por educação. Era uma moça legal, parecia compreender a minha dor. Ela fez muito mais do que sua obrigação mandava, levou minha gatinha com ela, numa última tentativa.
No dia seguinte, já tive a resposta: minha querida gatinha não resistiu. Não queria morrer perto da gente, eu acho. Chorei no ombro de minha mãe, mas falei que devia ser melhor assim. Pelo menos não está sofrendo mais.
Naquela noite, gata mãe dormiu nos pés da minha cama. Nem me lembrava da última vez que ela fez isso - era bem mais reservada e independente que sua filha. Talvez quisesse me fazer sentir melhor, me confortar. E funcionou, sentia falta dela em minha cama.
Mesmo assim, é difícil aceitar. Eu nunca mais vou ouvir seus miados insistentes por atenção. Nunca mais vou ser acordada às cinco horas da manhã. Nunca mais ouvirei seu ronronar no meu colo.
Eu não queria te deixar ir, mas sei que foi melhor assim. Querida gatinha, sei que aonde quer que você esteja, você está num lugar melhor.
Obrigada por encher minha vida de felicidade. Você foi uma gatinha maravilhosa...
Descanse em paz, minha querida gatinha.
Stephanie Masson Cardozo
Enviado por Railda em 12/01/2016
Reeditado em 12/01/2016
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