Raul d'Ávila Pompéia

“Xeque mate, disse-me meu oponente, à mesinha da sala. Aceite a derrota.”

Muito relutei diante da dureza deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de uma vitória projetada estrategicamente nas profundezas do encéfalo que é chamado erroneamente de cérebro; diferente do que havia imaginado, tão diferente, que parecem os estudos de táticas de xadrez um mecanismo sagaz, com a intenção única de tornar mais sofrível a ruína, à impressão rude do perene ensinamento: proteger o rei da ardilosidade avinda da influência de quaisquer peças contrárias, até mesmo de um peão por que, uma vez promovido, tal qual uma dama, torna-se poderoso. Cuidemos pois, dos cantos e também do centro, pois o tabuleiro, inclemente, não premia os indecisos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.

limalves
Enviado por limalves em 03/07/2015
Reeditado em 03/07/2015
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