AS MÃES DA MINHA VIDA

Para mim, é sempre difícil falar das mães. Perdi a minha muito cedo – muito cedo para ela, que faleceu com apenas 59 anos de idade (neste domingo, ela estaria de aniversário, 67 anos).

Não tive o privilégio de ter filhos, talvez por não ter tentado o suficiente. Mudando o contexto de uma frase da escritora Marguerite Duras, eu diria que muito tarde na minha vida ficou tarde demais.

Ainda assim, as mães sempre estiveram muito presentes na minha vida.

Minha avó paterna foi minha segunda mãe (uma mãe com açúcar, como se costuma dizer), me paparicando com ternura e zelo.

Minha mãe é minha maior referência. Depois que meus irmãos casaram, nos aproximamos mais e seguramos juntos as situações mais cabreiras.

Quando minha mãe morreu, eu não chorei tanto quanto a sociedade espera. Não que não sentisse a perda, mas por que sempre fui travado para demonstrar emoções em público.

E também por que não me parecia real: para mim a qualquer momento ela despertaria, como sempre despertava de suas crises devido ao diabetes elevado.

Passei o velório todo estático feito um zumbi, esperando que a qualquer momento ela abrisse os olhos ou eu acordasse daquele pesadelo feio.

Não acordei.

Ainda hoje, tomo verdadeiros sustos quando encontro na rua uma mulher parecida com ela. E isso que moro a mais de 700 quilômetros de minha cidade de origem – minha mãe sempre morou lá e só viajou pouquíssimas vezes para visitar parentes.

Minha irmã, com quem sempre tive mais afetividade, é mãe de dois filhos educados e corretos.

E boa parte das mulheres com quem me relacionei nesta vida eram mães.

Ser mãe é uma das tarefas mais árduas e ao mesmo tempo mais valorosas que Deus criou.

Mãe sente no corpo e na alma quando um de seus filhos não está bem.

Mãe sempre empresta dinheiro. E não espera que os filhos devolvam.

Mãe sempre tem um remédio para os males do corpo e um abraço aconchegante para as dores da alma.

Mãe sempre está presente.

Mesmo quando mora no outro lado do planeta.

Mesmo quando não pertence mais a este mundo.

E sempre diz que seu filho é inocente. Mesmo quando todas as evidências provam que ele é o ser humano mais reprovável da face da terra.

Mãe parece um monstro quando nos contraria. Principalmente quando somos adolescentes.

E muitas vezes só aprendemos a dar-lhes o devido valor quando elas não estão mais entre nós.