O dia da Beleza

Quando tomamos conhecimento do processo de lutas das mulheres por direitos sociais e por melhores condições de vida, é difícil de acreditar que há tão pouco tempo havia um abismo separando homens e mulheres – sempre com os homens no topo das oportunidades. É difícil de aceitar que a pessoa da qual saímos do ventre, a primeira a nos oferecer toda a segurança e conforto na vida, tenha sido relegada a um segundo, terceiro ou quarto plano. É de enojar que tenha havido uma realidade histórica assim, de segregação e submissão total das mulheres, e que até nos dias atuais -com toda racionalidade - persistam ainda tantas diferenças.

As mulheres sofreram toda sorte de tirania masculina, na maioria das culturas, em todas as épocas. Durante milhares de anos seus direitos humanos não existiram. Viveram o horror do subjugo ao poder de vida ou morte exercido por autoridades civis, religiosas, patriarcais, castas, maridos, irmãos, senhores, que praticavam todo tipo de barbaridade. Estiveram, sempre, fora do restrito grupo hegemônico, foram massacradas, condenadas a viver uma vida inteira de submissão; e não havia como ou a quem acorrer, era culturalmente aceito, e quando não era, pouco se podia fazer.

Há alguns conservadores que dizem – “ah, naquele tempo é que era bom!”, se referindo a maior conservação do casamento, à educação sexual rígida, ao “respeito” e autoridade dos pais, professores, etc. Claro, a sociedade era perfeita, maravilhosa, desde que não fizesse parte de qualquer grupo que eram lesados em seus direitos fundamentais, entre estes as mulheres. Lemos nos noticiários e constatamos na mídia que, nos dias atuais, têm aumentado as denúncias de violência contra as mulheres. Porém isto pode nos induzir a uma leitura errada da situação, uma vez que pode significar que as estas estão defendendo mais seus interesses, buscando mais seus direitos.

É certo que há ainda subjugação feminina, e que existem muitos obstáculos a serem superados para a solução desse problema social grave. Mas ao menos hoje nos indignamos quando tomamos conta de qualquer situação de violência dirigida às mulheres. Isso me faz ter fé na humanidade; me faz acreditar que nos tornamos melhores a cada dia, que nos movimentamos rumo a um futuro promissor. Carrego comigo a firme esperança de que um dia divisaremos a luz que porá fim aos dias sombrios das discriminações e preconceitos. Não tenho dúvidas de que quebraremos as estruturas paradigmáticas de dominação, que superaremos a cultura maldita das diferenças que elevam alguns e oprimem amargamente outros; que acabaremos com as ditaduras maléficas das tradições fanáticas que impõem submissão destruidoras de vidas. Enfim, predigo que, paulatinamente desconstruiremos todas as imposições sociais, e brindaremos, num horizonte não muito distante, o alcance daquilo que será o maior galardão da sociedade dos seres humanos: o respeito às diferenças e a conseqüente igualdade de oportunidades.

Sendo assim, que permaneça para sempre o dia da mulher, mas que seja apenas para homenagear a formosura feminina. O dia da beleza.