LAÇOS DE TERNURA
 
Não tive filhos, netos, mas ao longo da vida conheci pessoas tão especiais que preencheram meus dias e me trouxeram tanta alegria e felicidade que a Deus sou grata por essa ventura.

Este ano quero fugir do lugar-comum e, em vez de escrever uma carta, mandar um cartão de Natal, vou prestar homenagem a minha neta por adoção, não de sangue.

Mi é seu apelido. É uma dessas pessoas por quem tenho enorme carinho.
Ela é a neta mais velha de meu falecido marido. Ele teve um primeiro casamento do qual nasceram quatro filhos. Um deles é o pai de Mi.

Ela vive hoje nos Estados Unidos para onde foi no fim da adolescência. Lá estudou e se casou com um americano. Estamos distantes, mas nos comunicamos por telefone, trocamos mensagens e ela me visita sempre que vem ao Brasil.

Há nas minhas lembranças passagens tão singelas, mas tão cheias de significado. São momentos fugazes do passado que estão vívidos em minha memória, e eu os vejo com as cores da ocasião.

Vejo Mi no cestinho, ainda bebê, dormindo ao lado da mesa do restaurante Varsóvia, enquanto nós adultos comíamos e conversávamos.

Relembro nossos passeios de bicicleta aos domingos, na ciclovia. Mi na frente para que seu avô e eu pudéssemos vê-la e dela cuidar. Seu longo cabelo esvoaçando ao vento...

E na noite em que estava em nossa casa para passar o fim de semana e foi me ajudar a arrumar a mesa para o jantar, e perguntou se poderia colocar um cálice pequenino para o Felipe, meu sobrinho, que era recém-nascido e lá estava com seus pais naquela noite. Mi achava que um bebê precisava de um copo proporcional ao seu tamanho...

Vêm a minha memória as crianças fazendo as refeições na mesa da cozinha, pois não havia lugar para todos na mesa da sala de jantar. Me vejo servindo achocolatado nas xícaras coloridas, com pratinhos parecendo bandejas, onde havia uma depressão em que as xícaras se encaixavam...

São tantas reminiscências, mas o que me emociona até hoje é a carta que de Mi recebi logo após o falecimento de meu marido, em que me consola e me diz:


"Bons momentos são muitos na minha memória e a maioria dos momentos mais felizes da minha vida, foram junto com você e vovô, andando de bicicleta na trilha do trem, todos os fins de semana em que eu ia dormir em sua casa, os domingos em que a gente ia visitar você e o vô, todos os aniversários e festas de Natal e fim de ano, agradeço por uma infância maravilhosa e por infinitas memórias"

Foi um privilégio acompanhar seu crescimento desde o nascimento. E continua sendo um privilégio tê-la como amiga e dar e receber afeto e carinho, assim, absolutamente espontâneo, sem nenhum laço de sangue ou parentesco.
Aloysia
Enviado por Aloysia em 07/12/2014
Reeditado em 08/12/2014
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