Uma Memória Transportada

Uma Memória Transportada

A saudade é a fagulha que deixa um rastro que outrora parecia mera presença, dentro de nossos corações acalentados pela doçura deste simples sorriso canto de boca que já dizia-nos muito! Tudo bem, meu cheiroso, ou cheirosa? Assim ela chamava os netinhos!

De recordações, impressões, caras e bocas minha Avó entendia, aquela fala mansa, mas quando queria dizer algo tinha aquela dureza, mesmo que baixinho e arrastado esse som, pelo peso da idade. Foi indispensável para meu aprendizado, me ensinou a ser calma, com sua tranquilidade, falar pouco e o necessário, pra quê perder a paz por tudo?! Ainda hoje almejo esta serenidade! Só ela conseguia, dentro da dimensão em que se transportou por mais de 10 anos, talvez pelo Alzheimer, talvez pela sapiência e deixar que os outros percebam os fatos, e atos, são tantas especulações...e alguns momentos de lucidez me dava verdeiras palavras amigas e solidárias, raras mas eu ganhava o dia! Tão bom sentir saudade sem dor, e sorrir dos momentos lindos, das dancinhas, das minhas palhaçadas que a fazia cair na gargalhada, nas músicas que a colocava pra escutar, nas histórias que eu lia pra passar o tempo dela, dos jogos de dominó, baralho que eu e Ramiro muitas vezes naquela inocência de criança "roubava no jogo". Lembro das revistas que folheava, nossa era cada comentário engraçado que expressava!! De uma certa forma minha avó foi A Avó que todo mundo tem, tirando o fato de não cozinhar mais, bordar pra mim, entre outras atividades, mas como toda criança adulta me fazia companhia nas minhas algazarras e vice-versa!

Palavras dela e seu comportamento ao decorrer dos anos eram mais como filha de minha mãe que propriamente mãe dela, os vocativos até inverteram, meu genitor também passou a ser seu pai. Os cuidados passaram a ser dobrados, aprendi cedo o que é zelar por alguém quem se tem apreço infinito e torna-me plena por isto. Há denominações para isso?! Sim! Diria amor, dedicação, gratidão, amizade, empatia, um misto de tudo que para mim se denomina seio familiar!

E reviver estas memorias com alegria e saber que a vida continua me acalmam os sentidos!

E você que está a ler este texto e tiver alguém a quem se dedicar pelo motivo que seja, faça, sem almejar nada em troca, pois o crescimento humanístico será grandioso, seu "telos" também revigora, e nada melhor que amadurecer proporcionando o bem-estar de seu semelhante.

Um beijo, cheirosos e cheirosas!

J Di Castro
Enviado por J Di Castro em 03/08/2013
Código do texto: T4417246
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