A morte pode vir quando quiser: trago as mãos cheias de rosas e o coração em festa.

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FLOR BELA, BELA FLOR, FLORBELA ESPANCA


Forbela desenhada pelo irmão Apeles Espanca


 
O dia 8 de Dezembro é feriado em Portugal. É o dia de sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Curiosamente, Florbela Espanca nasceu a 8 de Dezembro de 1894, casou a 8 de Dezembro de 1913, morreu no 8 de Dezembro de 1930, foi batizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição e, aos 8 anos, adotou o nome "da Conceição".

Ela tinha beleza, poesia e ritmo em seu nome completo: Florbela d’Alma da Conceição Espanca. Descobriu a poesia (ou a poesia a descobriu) muito cedo. Mulher, jovem, bonita, romântica, início do século XX, Portugal. Talvez estes  ingredientes sejam suficientes para descrever a grande poetisa, que tão cedo (aos 36 anos de idade, jovem e ainda bela flor) desapareceu. Talvez consigam até mesmo justificar os motivos que a levaram a tomar tão drástica atitude: farta da sua «má sorte», cansada de ter nascido numa época que não era a sua, optou pelo suicídio.  

No dia em que eu completei 20 anos, tive o prazer de receber de presente o livro "Sonetos Completos", que contém todos aqueles publicados em "Livro de Mágoas", "Livro de Soror Saudade", "Charneca em Flor" e "Reliquiæ".  Leio e releio seus sonetos sempre que posso e neles encontro cada vez mais profundamente gravada a alma de Florbela Espanca, através da beleza de seus sonhos, da esperança, do amor, da dor, da tristeza e da insatisfação com a vida que, de forma tão bonita, deixou como herança a todos que amam a poesia.  

Leio e releio e é como se cada página do livro tivesse o perfume das rosas que ela afirmava trazer nas mãos.  Nas suas criações literárias, remete-nos, Florbela, da beleza à fealdade, da alegria à mais profunda tristeza, do gozo à dor, e, assim o fazendo, aprendi a admirá-la como expoente literário e como ser humano, passível de acertos e desacertos, enganos e desenganos e atitudes extremas, como aquela que lhe tirou a vida.

Florbela não era de sua época, deste mundo. Aquela a quem Fernando Pessoa chamou de «alma sonhadora/irmã gêmea da minha», vivia como todos os grandes artistas: além da realidade, ultrapassando todas as fronteiras do corpo e da alma e mergulhando a fundo no universo da existência humana, onde não há limites definidos para a realidade e o sonho.  


A inspiração para esta homenagem à inesquecível poetisa portuguesa vem do seu próprio nome, FLOR BELA, BELA FLOR, FLORBELA ESPANCA, sempre viva, que nunca deixará de existir no inesgotável jardim da poesia e nos sentimentos, sensações, dores, alegrias, tristezas, desespero, enfim, em tudo que possa se passar no íntimo de cada um de nós.

 


 
O extraordinário soneto «À MORTE» que escreveu na última noite da sua vida traz o perfume das rosas que eu gostaria de oferecer a Florbela:
  
À MORTE

Morte, minha Senhora Dona Morte,
tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
e como raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
tua mão que nos guia passo a passo,
em ti, dentro de ti, no teu regaço
não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
má fada me encantou e aqui fiquei
à tua espera,... quebra-me o encanto!

Florbela Espanca
 
Ana Flor do Lácio e Florbela Espanca
Enviado por Ana Flor do Lácio em 08/12/2011
Reeditado em 08/12/2012
Código do texto: T3377869
Classificação de conteúdo: seguro
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