ROQUE SANTANA - UM ANO DE SAUDADE

ROQUE SANTANA

UM ANO DE SEPARAÇÃO E SAUDADE...

Parece que foi ontem, mas hoje completa um ano que Roque Santana nos deixou. Uma presença inesquecível em nossas vidas, marcadas pela dor da saudade.

Uma perda irreparável do companheiro, pai e amigo. Roque era o nosso sustentáculo, a nossa referência. Com sua afetividade clara e definida pelas pessoas que ele amava, ensinou-nos que a vida é um constante recomeço, procurando viver intensamente “um dia de cada vez”. Foi assim que ele viveu e coroou de êxito a sua existência.

Sua partida não marcou o fim da sua história e sim uma pausa para o começo de novas tarefas numa outra dimensão. Ele nos deixou um legado de responsabilidade e solidariedade humana. Mostrou-nos que a família é um veículo de transmissão de valores, como justiça, solidariedade, educação, respeito e responsabilidade. Ensinou-nos, também, a guerrear pela nossa família, pelos nossos filhos, e edificar a nossa casa na rocha firme chamada Jesus. O que nos conforta, pois, é lembrar o que disse Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas...”

Sentimos na pele a dor da perda quando vivenciamos a tristeza e o desespero de o termos perdido... Nossa alma ficou pequena; a dor da saudade foi suportável porque não duvidamos da sua existência e sim que ela teria um fim...

Cada pessoa que passa em nossa vida é única; passa sozinha, mas não vai sozinha e nem nos deixará só. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Existem, no entanto, as que levam e deixam muito, a exemplo de Roque Santana, que cuja saudade, nos faz sentir que existe o que não existe mais...

Decerto a dor não diminuiu com o tempo; nós é que ficamos fortes o bastante para suportá-la. Hoje, deixamos o luto para marmorizar a sua memória e, lembrar dele como ele era, e gostaria de ser lembrado: alegre e festeiro; entusiasta e otimista; magnânimo e generoso por excelência. Este era o perfio do cunhado que conheci e convivi... Assim Roque viveu e foi feliz!

A impossibilidade de se conversar com “ele”, ouvir sua voz, saber sua opinião ou tocá-lo, é muito doloroso para nós. Temos que nos contentar, então, com as doces lembranças.

Lembrar de Roque é uma tarefa muito fácil, pois ele está presente em nossas vidas, diuturnamente de várias maneiras: onde existir festa e alegria, sentimos a presença de Roque; toda vez que precisarmos de um ombro amigo capaz de nos acalentar, imaginamos Roque chegando com seu gesto magnânimo, pronto para servir; quando um membro da família estiver necessitado e aflito, logo pensaremos na providencial chegada do Roque como socorrista eficaz. Por tudo isso, ele nunca ficará no esquecimento.

No familiar jogo de baralho ele foi substituído, mas nunca esquecido. Apesar dele não ter usado o “terno preto” para “trancar” a pretensão da morte, mas como “coringa”, ele participa espiritualmente de todos os jogos, em todos os momentos...

Quando se forma uma mesa de jogo, a lembrança de Roque é inevitável...

Nas cavalgadas, por maior que seja a tropa, temos sempre a impressão de vermos, no centro do cortejo, o “cavaleiro” altivo e elegante, cavalgando garbosamente na garupa do seu campolina, num trote de perfeita sintonia entre cavalo e cavaleiro. Impossível a gente não associar um lindo cavalo ao nome de Roque Santana...

Por todo o Estado da Bahia, por onde quer que se estenda a malha ferroviária, tem-se a sensação de ouvir o “apito” da locomotiva anunciando a chegada do Dr. Roque, paladino dos ferroviários, trazendo a boa nova dos processos trabalhistas de toda a classe. Onde se vê um “trem”, ver-se também, Roque Santana...

Nos Tribunais, não era diferente. Dos Magistrados aos meirinhos, todos se alegravam com a sua presença. Seus colegas de classe, de forma unânime, o consideravam como arauto da OAB baiana. Hoje, a cada processo ingressado por seu escritório, é patente a lembrança do Dr. Roque, amigo de todos. Quando o processo é trabalhista, o nome Roque Santana é impossível não ser lembrado.

A Ilha dos Corais, em Itaparica, é impregnada de recordações. Tudo nos remete a lembrança de Roque. Das conversas amigáveis na beira da piscina, ao joguinho de baralho todas as noites. Nas caminhadas pela praia, chegamos a imaginar, até, que o Deus Netuno possa surgir das águas para constatar e lamentar a sua ausência. O verão na Ilha terá sempre a cara de Roque Santana...

Ele não procurava receita complicada para viver; sentia prazer na simplicidade e acreditava que onde existisse a simplicidade existiria a felicidade. Para ele, a felicidade não era um destino, mas um modo de viajar. Roque não era só um homem; era um ser humano, tinha sentimentos, e bom coração. Ele sabia falar e calar, sobretudo sabia ouvir. Gostava de poesia, da madrugada, do campo, do sol e da lua. Roque gostava do que fazia e só fazia o que gostava; ele era o côncavo e o convexo, era urbano e rural por excelência. Roque gostava de gente...

Roque era um Doutor que por vezes, travestia-se de lavrador para estar mais próximo do camponês. Tinha um temperamento forte e um coração mole; bom de briga e pacifista; era capaz de brigar e perdoar sem conseqüência. Roque sabia conversar de coisas simples, de contar “causos”, histórias antigas, de recordar a infância e fazer alusão a sua origem... Era um tradicionalista que debruçava no passado em busca de memórias perdidas. Roque era um nativista sacerdotal.

O seu exacerbado nativismo será sempre lembrado e aclamado pelo povo Santo-estevense, de todas as camadas sociais, sobretudo, pelas pessoas mais simples da periferia. Hoje, Roque é lembrado com ternura e honra...

Roque Santana, Roque de Dimiro, Roque de Dona Zinha, Roquinho, Compadre Roque, Dr. Roque ou simplesmente Roque. - Esta pluralidade de tratamento coadunava com a sua polivalente atuação quando acarinhava a todos de diferente maneira.

Além de Auxiliadora, minha irmã, muitas foram as viúvas que Roque deixou pelas periferias urbanas e rurais de Santo Estevão. Muitas Mães necessitadas tinham como certo o recebimento do seu farnel mensal para alimentar a sua prole. Da mesma forma, um incontável número de jovens e adolescentes, sente-se órfão e padece com a falta daquele que lhe oferecia adjutório para a manutenção dos seus estudos e afins. Todo o dia de sábado, é certo para toda essa gente, a lembrança do protetor Dr. Roque, pai dos pobres...

Ainda que invisível para os olhos mortais, Roque continua VIVO no coração de muita gente. “Quando um homem é bom amigo, também tem amigos bons”. No escrito de Juliana, “Roque entrou por acaso na vida de muitos amigos, mas não foi por acaso que permaneceu no coração de cada um deles.”

Quero lembrar-me dele no melhor estilo do viajante feliz, que em seu alforje levava tão somente alegria e entusiasmo de viver...

Em sua homenagem, erguerei um brinde a vida!!!.. Obrigado, Roque, por ter estado conosco durante todos estes anos. Até qualquer hora, pois esperamos que Deus nos permita a graça de revê-lo e retomarmos o diálogo interrompido.

VALEU ROQUE SANTANA!!!

Você soube viver muito bem, a vida que Deus lhe deu...

Minha eterna saudade

SP, 16/11/2011.

Manoel Rocha Lobo
Enviado por Manoel Rocha Lobo em 10/10/2011
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