QUANDO UM AMIGO SE VAI

Odeio despedida. Despedida é perda.

É o momento onde mais me pergunto: por quê?

Por que mais um amigo me deixa?

Por que no momento em que mais me apego é justamente quando perco?

Que fado é esse que me deixa aqui, sempre aqui, e eles não?

Eles se vão. Perco uns para a morte, outros para a vida.

E eu aqui, sem morte, mas sem vida, a cada um que sai de mim.

Meu amigo está feliz. O que fazer, se meu amigo está feliz?

O que lhe dizer nesse momento, que não me saia custoso?

- Não se vá? - Mas ele está feliz!

- Vá? - Parta? - Saia de mim? – Mentira!

Engana-se quem pensa que endureço a cada perda. Engana-se.

Meu mais novo amigo me deixa e com ele me deixam, de novo, todos.

Com ele se vai o meu mais antigo, e o outro, e o outro, e o outro.

Cada um que se vai busca dores antigas dentro de mim e as torna recentes.

Perco amigos nessas horas, dos quais nem lembrava mais que tinha perdido.

Voltam somente pra me deixarem, quando este me deixa.

E nem ao menos estão juntos, pra que eu saiba exatamente onde estejam.

Um lá, outro mais acolá, outro nem sei onde. E este agora, aonde irá?

Só sei de mim. Só sei onde fico. E fico sem eles.

- Não te esquecerei – diz este. Esquecerá, sim. A menos que seja infeliz.

Enquanto estiver feliz se lembrará, uns dias mais e depois raramente.

Por fim esquecerá. A perda só revive pela dor.

Meu mais novo amigo não se lembrará de mim, porque será feliz.

Melhor assim.

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Para o meu amigo Vavá e aos outros todos.