Meu pai

Hoje, segundo domingo de agosto, é dia escolhido para homenagear os pais. Há quatro anos meu pai mudou para outra dimensão. Era a única maneira de melhorar, pois livrou-se da velha roupagem terrestre. Já habitava aquele traje havia 90 anos. Fez uma traqueostomia e perdeu o dom de falar. Para quem falava muito, foi uma perda que só podia ser reparada com o prêmio da viagem para o além.

Hoje fui à casa do Pai celeste, e participei da eucaristia, em homenagem ao pai terrestre, que já não está aqui. Ganhei lá um imprevisível presente: Um Agente de Pastoral, meu amigo, me pediu para fazer a primeira leitura da Liturgia da Palavra, cujos leitores foram selecionados entre homens que têm filhos, ou seja, pais.

Ele aqui não mais está, mas eu muitas vezes sonho com ele, e nos sonhos eu não o vejo como alguém que morreu. Para mim a morte é algo que não existe. O nascimento é mais traumático do que a "morte", que é um novo nascer. Vejo-o nos sonhos sempre bem, sadio, diferente de como estava nos seus últimos dias terrestres, quando não podia expressar sua vontade, pela perda da voz. O passaporte dele para uma melhor morada entre as muitas do Pai foi uma falência de múltiplos órgãos. O velho traje foi depositado em Juazeiro do Norte, semeado na carne, mas renascido em corpo espiritual, sem defeitos, sem problemas de voz, sem órgãos falidos.

Obrigado, meu pai terrestre, pelos dias que cumpriste na Terra, batalhando para sustentar uma família enorme, em tempos difíceis. Foi um milagre que fez junto com minha mãe, sob as bênçãos do Pai celeste, numa casa com dois quartos, sendo um do casal e outro para todos os filhos. As redes formavam um leque: numa parede um torno (armador) e na parede oposta vários armadores de rede.

Lembro as madrugadas, em que escutava o saudoso canto do galo. Sempre fui de acordar de madrugada. Meu sono sempre foi entrecortado, desde criança. Mas estou aqui, hoje, inteiro, agradecendo aos meus pais e homenageando o meu genitor pela passagem deste segundo domingo de agosto.

Pai, continue a aparecer nos meus sonhos, pois sei que é você, vivo e sadio, que vem do mundo dos espíritos para visitar-me neste vale de lágrimas. Que o Pai celeste nos proteja aqui e em outros mundos da casa de Deus.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 08/08/2010
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