"LA SAETA" E SERRAT
Quando, um dia, na existência, uma música e uma voz mudam o rumo de nossas vidas, há que se lembrar disso por toda a eternidade. E agradecer a Deus por aquele dia, especial entre tantos outros dias, em que um sol brilhou mais claro e iluminou o olhar que se perdia nas confluências da caminhada. Em notas e palavras, um timbre, uma voz -- impulsionaram-me a buscar algo mais, algo mais além -- que se tornou o jardim eterno da minha existência.
"La Saeta" foi a música e a voz foi de Joan Manuel Serrat, catalão, compositor, cantor, um artista extraordinário. Talvez somente eu e Deus conheçamos os caminhos que juntos, em essência, traçamos. Eu e essa voz -- mas também Deus permitiu-me, num longínquo momento de 1986, o privilégio de conhecer pessoalmente o rosto de quem carregava (e ainda carrega) essa voz como um rouxinol a envolver em encantamento o bosque humano.
-- Eu e essa música -- Aqui a "revelo", a quem ainda não a conhece, um poema maravilhoso de Antonio Machado, igualmente admirável poeta espanhol, cujas versos foram musicados por Serrat em magistral beleza e encantamento.
LA SAETA
(poema de Antonio Machado, musicado por Joan Manuel Serrat)
Disse uma voz popular
Quem me empresta uma escada
Para subir ao altar
Para tirar os cravos
De jesus, o nazareno
Oh! la saeta el cantar
Al cristo de los gitanos
Siempre con sangre en las manos
Siempre por desenclavar
Cantar del pueblo andaluz
Que todas las primaveras
Anda pediendo escaleras
Para subir a la cruz
Cantar de la tierra mia
Que hecha flores
As jesus de la agonia
Que es la fie mis mayores
Oh! no eres tu mi cantar
No puedo cantar ni quiero
A esse jesus del madero
Sino al que anduvo en la mar