Pai dois em um
(O meu Dia das Mães)
 
Minha filha ainda pequena. Naquele ano, as freiras e professoras decidiram prestar uma homenagem diferente às mães. Em vez das tradicionais apresentações de cantigas, danças e poesias, queriam integração e participação. Para tanto, elencaram alguns jogos e brincadeiras para envolver mães e filhos. Uma festa das mães diferente e animada na escola.

- Pai, a mãe não pode ir ao colégio no dia da homenagem. Você vai participar comigo?

- Sim, vou assistir.

- Não, só assistir não vale. Todas as mães vão participar junto com os filhos. Você vai também, já que a mãe não pode.

- Haverá apenas mães jogando e brincando. Vou ficar sem jeito, deslocado, sem graça.

- Se não for, vou ficar triste. Chorando em casa.

Fui. O único homem, pai com idade de avô, entre as mães novinhas. Não muito à vontade no início. Depois me integrei e assumi o papel. Ninguém ousou me perguntar por que eu estava ali. Apenas olhares curiosos. Não sei o que pensavam ou comentavam à sorrelfa. Mas aquele foi o meu Dia das Mães.

 
Em dia nenhum,
negaria à minha filha
ser pai dois em um.

 
Sábados e domingos, praças e parquinhos, matinê, circo, teatrinho. Eu e as outras mãezinhas com os filhos e filhas. Onde estariam os pais?

Com a aposentadoria continuei sendo pai, e mãe um pouco mais. Levar e buscar na escola, aulas de inglês, reforço escolar, reuniões no colégio, médicos, dentistas, hipismo, academia, aulas de dança.

Compras no shopping. Eu sentadinho na frente do provador: esta calça é muito justa, cintura baixa demais, blusa decotada além da discrição.

E dê-lhe festas, baladas. De madrugada pela cidade - aí é coisa de pai. Com este vestido não vai. Muito curto, mostra tudo quando senta.

- Vou lá para dançar, não para sentar.

Das amigas, conhecia poucos pais. Mães, conhecia todas. Era com elas que eu conversava. Quem leva à balada? Quem vai buscar? Mesmo quando era o pai quem ia levar ou buscar, no revezamento comigo.

Não sou santo. Ainda hoje brigo muito. Sendo pai e mãe, bronca dobrada. Pobre Mariana. Muitas vezes exagero na dose. Pego pesado. Mas nunca sem amor. Que também dou em dobro.

 
De jeito nenhum,
abandonarei o meu jeito
de pai dois em um.

 

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N. do A. – Na ilustração, Mariana Rafaela aos 15 anos.
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 12/05/2012
Reeditado em 08/05/2021
Código do texto: T3663539
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