Pobre não morre
Quando eu nasci, meu pai já havia sido brindado pela natureza com uma rajada de tintura branca nos cabelos. Portanto, nunca vi meu pai com a cabeleira escura da juventude, salvo nas fotografias. Sempre grisalho e branqueando mais a cada dia. Para os padrões da época, um velho.
Apesar dos cabelos brancos e do gênio ranzinza, ele tinha longos momentos de bom humor. Acho que a maior parte do tempo, principalmente nas rodas de chimarrão com os amigos, nas festas de aniversário da família e com os fregueses da sua carpintaria. Contava piadas, colocava apelidos jocosos nos outros - mas nunca depreciativos ou ofensivos - e inventava ou repassava aforismos bem humorados, alguns impublicáveis. O deste haicai era um dos que ele mais gostava e repetia.
Dizia o meu pai:
pobre sofre, mas não morre;
desaparece. Ai!
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N. do A. – Na ilustração, Ernesto Carlos Hey, pai do autor.