Umas paradas

Foi durante os anos de escassez, na antiga dinastia Wing, que os sábios monges tibetanos refletiram sobre a expressão “parada”. Após longos anos de profundas meditações, um daqueles monges alcançou a iluminação espiritual. Em suas visões de planos superiores, foi-lhe dito que aquela expressão era, na verdade, uma dádiva dos espíritos da natureza. “Parada” foi, segundo as revelações, uma expressão cunhada pelos espíritos da natureza e por esses dada aos primeiros homens para ajudá-los em sua difícil travessia pelo plano terreno.

Em razão disso, o termo “parada” revela uma polissemia fabulosa, servindo a qualquer situação.

O referido termo presta-se àqueles momentos em que não se encontra uma mentira de última hora. Nesses casos, costuma-se dizer: “Ah, umas paradas aí”. Mais ainda, quando não se quer revelar para onde se vai ou o que se vai fazer, basta dizer: “Vou fazer umas paradas por aí”. Quando é preciso recusar um convite para sair com os colegas, basta dizer que é preciso “resolver umas paradas importantes”.

Melhor ainda, “parada” é um termo que pode salvar relacionamentos, pois basta dizer que você conversava “umas paradas desimportantes” com aquela mulher do trabalho. Quando se chega atrasado em casa após o serviço basta dizer que foi preciso “resolver umas paradas que aconteceram de última hora”. Tudo simples, assim estará resolvido.

A utilização daquele termo recheia de mistério a trivialidade cotidiana; protege os bons da inveja dos maus e irrita sutilmente os curiosos. Quem pode discordar de que é muito mais enigmático dizer que se estava fazendo “uma parada ultrassecreta” do que de fato dando uma boa dormida à tarde? É sempre mais seguro afirmar que se trabalha com umas paradas do que revelar sua verdadeira profissão e endereço de trabalho. É muito mais seguro e recomendável dizer que se está na expectativa de umas paradas do que informar às almas invejosas seus verdadeiros planos.

E assim, tudo foi escrito pelos sábios monges tibetanos no antigo livro das verdades insondáveis. Alguns conhecem o poder do termo “parada” por terem lido aquele raro livro. Outros, mais poucos ainda, conhecem o poder daquela expressão, pois também foram agraciados com as visões dos espíritos da natureza.

(Publicado sem revisão prévia)

Guilherme c
Enviado por Guilherme c em 17/08/2016
Reeditado em 29/10/2016
Código do texto: T5730811
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