Plant e troop, dois casos de traduções ridículas da língua portuguesa

Plant e troop, dois casos de traduções ridículas da língua portuguesa

por Márcio de Ávila Rodrigues

[26/02/2023]

A contaminação da língua portuguesa pelo inglês é um evento antigo, mas sempre me irrita.

Ela ocorre no uso desnecessário de palavras de origem inglesa e também na adaptação incorreta, desvirtuada, equivocada.

Exemplo clássico é “plant”. Em algum momento do passado, os norte-americanos começaram a usá-la para representar a instalação industrial (o prédio).

Imitadores, muitos brasileiros já adotam essa estranha definição, bem mais adequada para o desenho em papel de uma construção (ou para os vegetais).

E tornou-se uma opção comum nas traduções e também nas palestras daqueles que querem aparentar erudição.

Outro exemplo, este mais recente, é o uso de tropa como sinônimo de soldado. É uma novidade, originária do mesmo uso de “troop” em língua inglesa.

A definição nº 1 do dicionário Michaelis é a adequada: “Grande número de soldados de qualquer das armas”. Uma ideia plural.

Lá no finalzinho do verbete, este dicionário (como também outros) informa a existência do uso individual (um soldado) na língua coloquial.

Mas é um uso implantado, pois na língua portuguesa natural o leitor identifica o soldado individual como “soldado” e seu coletivo como “tropa”.

O jornalismo tem a função de simplificar e facilitar a rapidez do entendimento, para democratizar o conhecimento. Mas, mesmo nos seus textos, nos assuntos internacionais, o estranho uso plural aparece com frequência, confundindo o leitor.

Vale aquela velha brincadeirinha: Se podemos complicar, para que simplificar?

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.