REINVENTANDO A GRAMÁTICA

Se dependesse de mim, eu reinventaria a gramática. Criaria novos verbos e adjetivos. Talvez excluísse alguns substantivos e advérbios. Faria uma revolução na língua.

Deus passaria a ser chamado Perfeição e mãe receberia o nome de doação. Poesia seria sinônimo de paixão e distância rimaria com saudade. Retiraria as palavras: medo, angústia, tristeza, traição, solidão e tantas outras palavras que só fazem mal ao coração humano.

Nessa minha reforma, amigo passaria a ser adjetivo e saudade ao invés de possuir sete letras e começar com a letra s, teria apenas cinco letras e começaria com a letra L. Mentiras e fofocas seriam palavrões. Professor passaria a ser chamado mestre e aluno discípulo. A escola passaria a significar local de encontro e aprendizagem seria antônimo de desistência e desânimo. A verdade seria verbo e a honestidade seria lei no país.

As palavras criança, adolescente e idoso seriam, respectivamente, substituídas por esperança, descoberta e sabedoria. A bondade e a perseverança seriam matérias obrigatórias nas escolas e os livros de poesias seriam escritos pelos alunos. Beleza seria sinônimo de conhecimento e bondade.

Nessa minha gramática, as palavras re-encontro e des-pedida seriam escritas assim. Presênça teria um acento circunflexo da mesma forma que ausência. A frase me dê um abraço ou te amo pertenceriam à norma culta. Carlos Drummond de Andrade seria o ídolo de muitos jovens no Brasil e as frases – “Eta vida besta meu Deus “-“E agora José “e “Tinha uma pedra no meio do caminho” seriam declamadas em praça pública.

O hino nacional seria reescrito e utilizado uma linguagem mais simples, pois um terço da população brasileira não sabe a metade do que está escrito no seu hino. A morte passaria a se chamar mistério e a vida celebração. A palavra só seria escrita no papel quando o olhar não fosse capaz de revelar o que queria se falar.

Reinventar a gramática é questionar conceitos, é refletir sobre o nosso povo; sobre as nossas atitudes e os relacionamentos que fazem parte da nossa vida. Reinvente sua gramática. Revisite sua vida e escreva uma nova página na sua existência. Enfim, reveja seus conceitos e encare a vida sem preconceitos. Faça com que ela seja cheia de substantivos e verbos, mas principalmente vivida com intensidade para que ela seja repleta de adjetivos.

Anizeuton Leite

Anizeuton Leite
Enviado por Anizeuton Leite em 07/06/2016
Reeditado em 07/06/2016
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