"Quem Certo Aprende, Errado Não Ensina": Vamos analisar essa afirmação do autor Américo Paz

Primeiro, digo ao Américo que sou da paz. Portanto, desejo debater ideias. Por exemplo, sei que ele sabe muito mais Gramática do que eu. Então, nesse assunto, ele tem tudo para me ensinar.

Não tenho problema algum em reconhecer essa verdade.

Exatamente, Paz, por achá-lo de alto nível, é que desejo fazer algumas reflexões sobre o título de sua última aula: "Quem Certo Aprende, Errado Não Ensina":

Fosse você um melancia qualquer, não me daria ao trabalho de dar-lhe atenção.

Fiz um brevíssimo comentário aqui sobre argumento e explicação, entre outros conceitos, que houve quem achasse que eu estava "fugindo do assunto gramatical". Não é bem assim. Gramática não se limita a normas, não. Ela deve ser sobretudo pensada, refletida, e não apenas ter suas regras memorizadas. E nesse exercício, é necessário que recorramos a conceitos aparentemente fora dela.

Sem mais circunlóquios:

"Quem Certo Aprende, Errado Não Ensina".

Esse argumento não é válido. Por quê? Vejamos:

Apliquemos aqui o esquema lógico:

Primeira premissa: Quem aprende certo assim ensina.

Segunda premissa: Eu aprendo certo.

Conclusão: Logo, ensino certo.

Esse é o conteúdo do título de sua aula, que não está em conformidade com o raciocínio lógico. Por um motivo simples: Há engano nas premissas. Esse argumento é inválido, pois uma das premissas pode ser refutada, a primeira. Ele não chega a ser uma falácia porque é autoevidente. Caso fosse mais "sutil" ou ardiloso, e houvesse a intenção de enganar, nesse caso, sim, seria uma falácia.

Como refutar a primeira premissa? Simplesmente porque sabemos que muita gente aprende bem determinado assunto, mas, por algum motivo, não o ensina corretamente. E há vários motivos para isso: Por comodidade e preguiça (incutir um assunto na cabeça de alguém, por vezes, pode se mostrar árduo); por dificuldade didática (aprende-se um assunto mas não se sabe transmitir); por deficiências de meios (falta de aparelhamentos ou recursos, por exemplo) e até por má vontade.

Quando estudante, eu tinha professores que davam "shows" como palestrantes, mas em sala de aula eram uma lástima. E em vários aspectos: Quando os alunos, em debates internos, diziam absurdos, tais professores se calavam; não tinham nem aplicavam um plano de aula; enfim, não tinham compromissos. "Eles fingiam que ensinavam e os alunos, que aprendiam".

Um título irrefutável, por exemplo, seria:

QUEM ENSINA CERTO, ERRADO NÃO APRENDEU.

O comentário acima tem também por finalidade mostrar

que tópicos que faço aqui aparentemente "nada a ver", na realidade, têm, sim, pertinência. Não é para "aparecer" como alguns querem concluir. Todos, sem exceção, gostam de ter seu esforço reconhecido, mas já passou há muito a fase de eu ter necessidade imperiosa de me fazer notado, de me autoafirmar. Já não sou um adolescente carregador de melancias.

Pedro Cordeiro
Enviado por Pedro Cordeiro em 29/01/2012
Reeditado em 01/02/2012
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