Os estrangeirismos e o vernáculo

Muito se tem falado de um fenómeno linguístico caracterizado pela invasão de palavras "estrangeiras" no "nosso" idioma. Nosso idioma? E qual é o nosso idioma? Do ponto de vista "biológico" nosso idioma é algo semelhante ao tupi-guarani. Era essa lingua sem gramática escrita que os brasileiros, chamados indevidamente de índios, falávamos.

Mas, por adoção ou por decreto, nossa língua hoje se chama português e é a mais nova língua derivada do latim (a última flor do Lácio), "inculta" e belíssima. E cada vez mais bela. Por quê? Porque o Brasil é um país aberto aos estrangeiros.E eles trazem na bagagem sua língua, que, aos poucos, vai-se incorporando ao português brasileiro. Não foram os estrangeiros, ainda haveria a globalização, que obriga os países a adotar o inglês para as relações comerciais, e o francês para a área diplomática.

Já tentaram, por projetos de leis (lembram o Aldo Rebelo?) retirar do português os estrangeirismos (galicismos, anglicismos, helenismos, e muitos outros), projeto esse que parece não haver funcionado muito bem. Não se mantém uma língua por decreto.

Uma língua é representada pela fala das pessoas que se expressam nessa língua. Não há decreto que obrigue um povo a reprimir a evolução da língua. Não é porque os portugueses dizem rato que deixaremos de dizer mouse. Enquanto eles falam ecran (meio afrancesado!) nós dizemos tela mesmo. Celular? Nao: Telemóvel.

Isso traz uma espécie de reunificação das línguas, pois segundo os linguistas há indícios de que as línguas têm uma origem comum, como a confirmar a história da Torre de Babel, narrada no primeiro livro da Bíblia.

Penso que é mais unificador incorporarmos palavras de outras línguas ao idioma que naturalmente falamos do que ficar inventando línguas artificialmente, como foi feito com o Esperanto e o Interlíngua. O Interlíngua trem uma vantagem: Utiliza-se das palavras mais conhecidas. Essa língua usa como critério para incorporar uma palavra o fato de o radical ser o mais conhecido. Uma palavra para fazer parte de Interlíngua deve ser comum a pelo menos 3 das línguas nacionais escolhidas como fonte: as neolatinas português, espanhol, italiano, francês e a anglossaxônica inglês; há planos de serem adotados o russo e o alemão.

Como pequena ilustração de como se adota uma palavra, tomemos a palavra portuguesa homem. Em espanhol é hombre, em francês é homme e em italiano é uomo. Em latim é homo (caso nominativo) e hominem (caso acusativo). Então, o interlíngua usa a palavra homine (ablativo do latim) para designar homem. Será que algum conhecedorr de francês, espanhol ou italiano não vai saber o que é homine?

Então, se está sendo criada uma língua (do modo mais natural possível) para ser entendida por grande número de pessoas do mundo todo, por que impedir que esse fenômeno aconteça sem que haja luta artificial?

Como amante dos fenômenos linguísticos naturais, acho até interessante que incorporemos palavras de outras línguas ao nosso portupiniquim. Assim, ninguém vai dizer que não sabe inglês, francês, italiano, etc. (sabe proncunciar mouse - mauze [rato]; abat-jur - abajur[quebra-luz], pizza - pitza - [sem tradução]; etc.).

Viva o galicismo! Viva o anglicismo! Viva o termo que chega no português brasileiro e fica incorporado a ele.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 03/08/2009
Reeditado em 05/10/2009
Código do texto: T1735322
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