UMA FÁBULA À INCONSCIÊNCIA

Num remoto lugarejo do mundo, quase inacessível ao Homem, onde a natureza ainda era virgem e exuberante, um rei buscava por um local aprazível para a construção do seu novo palácio.

Aos súditos contava o rei que o grande palácio seria algo nunca dantes visto na pobre História do mundo realíssimo.

“-Óh, Óh! “-Exclamavam todos extasiados e envaidecidos com a megalo-fantasia "palaciosa" narrada pelo seu rei...

Por decreto,então informou a tal realeza que todos os reinados da redondeza deveriam contribuir para a obra de construção alavancada pelo seu enorme ego, a que outrora já havia sido alicerçada, porém, embargada pelos homens da lei ,em probo nome da saúde da flora e da fauna do meio.

Assim que liberada e depois de construído o palácio todos seriam convidados para a inauguração, reis , súditos e plebeus.

A notícia correu o reino.

Todos aguardavam ansiosos e empavonados pelo grande dia.

O rei, todavia , se encantara com aquele santuário ecológico que já escolhera um dia por se tratar dum parque maravilhoso, de espécimes raras, e em cujo lago de nascente cristalina ali localizada havia carpas encantadas, pássaros exóticos, cisnes negros, árvores de copas robustas e acolhedoras e uma infinidade enorme de aves migratórias que ali faziam escala para bebericarem água fresca e depois seguirem suas rotas de revoadas celestiais.

Um dia, a construção do palácio se finalizou e todos comemoraram efusisvamente:

-HABEMUS REI! HABEMUS REI! exclamavam todos, sempre empavonados, à espera da grande festa de honrarias.

Todavia, corria na boca pequena do reino e arredores que, durante a obra, um envenenamento do solo infiltrou os lençóis do lago, matou a nascente e todas as carpas morreram.

Fizeram de tudo para salvar o ecossistema, infrutíferamente.

Os pássaros, por conseguinte, sumiram dali. Todavia, com o tempo, ninguém ousava mais perguntar do ocorrido sob pena da pena da realeza.

O rei, indagado pelo braço forte da lei, negou o fato, recolheu as carpas e as guardou num freezer enorme para que ali ficassem escondidas, prova que eram do grande desastre ecológico.

Os peritos do rei foram orientados a dizer que ali nada havia ocorrido, a não ser uma superpopulação de peixes que desequilibrara a vida no lago.

A população, desconfiada do que ocorrera com a morte enigmática do santuário, chamou a imprensa, os biólogos, o padre, os ambientalistas, os juristas, o delegado, os veterinários, os socorristas, os paisagistas, enfim, mas nada foi muito esclarecido porque o povo e os reis, em verdade, queriam mesmo era participar da festa da inauguração.

Chegada a hora da festança aberta, todos se apresentaram para os comes e bebes, inclusive os que, a princípio, diziam lutar pela preservação do meio ambiente.

Para encher a pança com quitutes palacianos todos esqueceram das nobres causas que defendiam...

Em homenagem ao meio florestal deteriorado o rei falacioso fez um discurso e batizou o seu novo palácio com o nome dum pássaro ali alvejado e morto pelo desatre ecológico.

-Habemus Memórian! berrou o rei!

Nessa hora o rei foi informado de que o jantar não seria suficiente para tanta gente presente.

“HABEMUS CARPAS! Sirvam as carpas congeladas! ”-disse o rei no auge da sua ignorância vaidosa.

E todos comeram, beberam e dançaram a noite toda, indiferentes ao ocorrido naquele santuário morto, sem sequer desconfiarem que ali, naquela festa, sentenciavam o seu destino trágico.

No dia seguinte, a notícia pelo reino se espalhou: todos haviam sido envenenados e mortos já estavam todos, rei, súditos, plebeus e inclusive os nobres vizinhos convidados, vítimas do envenenamento de todo o mal ignorado.

Contam que o Santuário nunca mais foi o mesmo mas que, toda noite depois da meia noite, o lago se ilumina de carpas brilhantes e se torna uma lagoa de luz, a iluminar o breu do descaso mortal ali selado.

Moral da fábula: a ignorância, ainda que feliz e festiva, é arma potencialmente lesiva à complexa malha das vidas, não apenas ao meio, mas a todo o seu entorno, inclusive.

Nota da autora: fábula é um obra de ficção realística.