O ATEU QUE ENTROU NO CÉU

Na sala de entrada do céu, chegam quatro irmãos recém desencarnados. O primeiro deles, um católico, foi ter com o anjo guardião dos portões celestes:

- Caro anjo, permita, por favor, a minha entrada no céu. Raras foram as faltas nas missas, onde auxiliava o padre. Ajudava na limpeza da igreja, podava as plantas e cuidava das salas. Deixei a minha contribuição nos trabalhos de sopa na rua e em tantos outros projetos mantidos pela paróquia. Posso entrar?

O anjo, após ouvir os argumentos do irmão católico, pede a ele que aguarde em acento destacado na sala. Em seguida, chega um evangélico que também põe-se a argumentar:

- Divino anjo. Dediquei todos os domingos da minha vida adulta à ouvir as pregações do pastor. Dediquei-me aos projetos sociais da igreja, como aquele que atuou no resgate de irmãos aprisionados ao vício da droga. Nunca houve mês em que eu faltasse com o dízimo e a bíblia sempre foi companheira em todos os momentos. Posso entrar?

Tal como fez ao católico, o anjo pede que o evangélico aguarde no mesmo lugar. É quando chega o terceiro irmão que é espírita.

- Áureo anjo. Dediquei-me aos estudos das obras da codificação, conhecendo muito bem os seus conteúdos. Atuei como evangelizador de crianças e jovens e fui bastante ativo nos trabalhos do corpo mediúnico. Auxiliei em cada almoço fraterno e em cada dia de palestra. Posso entrar?

Então, o espírita recebeu a mesma recomendação que os dois irmãos anteriores.

O quarto irmão era um ateu. Atordoado e confuso, explicitando um certo desespero no olhar, vai falar com o anjo:

- Como? Um anjo? Um portão com traços divinos? Algo está errado. Tenho certeza de que morri, pois lembro-me muito bem do diálogo entre os membros da equipe médica na sala de cirurgia, tendo o fim da minha vida como tema. No entanto, contrariando essa certeza, sinto-me vivo. Enxergo, ouço, falo e movimento-me. A morte é o fim de tudo. Mas, estou aqui. Não consigo entender nada. Se tentar entender, parece que vou enlouquecer. Quem é você? Que lugar é esse? Onde estou?

O anjo, então, com a voz mansa, recebe o ateu e o socorre:

- Querido irmão, não te aflijas. A confusão em que se encontras nada mais é que o fruto da descoberta de que tudo aquilo que acreditavas, enquanto encarnado, era um enorme equívoco. Entre e fique tranquilo. Do outro lado deste portão, haverá irmãos prontos para recebê-lo e dar maiores esclarecimentos sobre a sua situação. Seja bem vindo.

Os três irmãos anteriores, testemunhando o ingresso do ateu ao céu, levantaram-se e, com indignação, exigiram explicações por parte do anjo que, com calma inabalada, esclareceu:

- Ainda que tenham dedicado parte das suas existências a Deus, não cuidaram de atender aos próximos que cruzaram os seus caminhos.

O católico não teve fraternidade com os irmãos de rua que apresentavam distúrbios mentais. O evangélico sempre se escandalizou com o vício dos irmãos drogados. O espírita não tinha paciência para com os jovens de entendimento mais demorado das lições do Mestre.

Todo o bem que faziam era acompanhado pelo sentimento de obrigação e, não, com o sentimento do coração que é o que verdadeiramente deve nortear as nossas atitudes de amor e caridade.

Isso sem mencionar as ocasiões em que deixaram passar a oportunidade de serem pontos terminais da maledicência, da fofoca e da intriga e das vezes que podiam praticar a caridade nos ambientes fora dos templos e não o fizeram.

No entanto, o nosso irmão ateu tudo isso fez, mesmo sem ter Jesus como guia e modelo.

Em nenhum momento teve Deus como razão do seu agir, pois nele jamais acreditou.

Nosso Eterno Pai não deseja que acreditemos nele. Espera, sim, que acreditemos no quanto que podemos auxiliar a cada um dos nossos irmãos.

Nosso Eterno Pai não deseja que vivamos enfurnados em templos construídos pelos homens cantando louvores. De nada vale tudo isso se não amares ao teu próximo. E foi justamente essa recomendação que o ateu seguiu.

Ainda que não tenha aceito uma só lição do Mestre, o ateu foi, em várias ocasiões, o enviado solicitado pelas preces de muitos, coisa que vocês não se dignificaram a ser.

Portanto, irmãos, o ingresso ao céu ainda é impedida a vocês, pois ainda possuem muito a aprender sobre o maior de todos os mandamentos: amai ao seu próximo como a ti mesmo.

André Luiz Gadelha
Enviado por André Luiz Gadelha em 22/12/2016
Código do texto: T5860794
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