Mudar e viver

O ratinho BOB vivia com seus dois irmãos e seus pais nas montanhas esverdiadas no vale das sombras. Os pais saíam todos os dias da toca, exceto sábado e domingo, pela manhã e caminhavam de olhos bem abertos, aguçando seus olfatos a procura de alimentos para nutrir os filhotes, que ainda não eram independentes ou capazes de sobreviverem sozinhos. Os pais amavam muito seus dependentes, mas tinham uma preocupação.

Bob era um ratinho fisicamente pronto, mas tinha uma deficiência de auto-estima. Quando os pais davam as costas, imediatamente os desobedientes e teimosos ratinhos, menos o BOB, saíam da toca e aproveitavam a vida: caminhavam bastante, se exercitando e logo depois corriam em direção ao riachinho que ficava na parte baixa da montanha, mas próximo dali. Lá eles pegavam um pouco de sol deitados na relva, nadavam de um lado para o outro e até mergulhavam para ver os lindos peixinhos de cor rosa no fundo do lago. E BOB passava a manhã inteira sozinho. Não saía um instante da toca, era sonolento, triste, sem vontade pra nada, sem vida. Nem no início da noite em que a família ficava fora da toca apreciando e contemplando o céu, a lua e as estrelas, pegando um ventinho frio e saudável. BOB ficava inerte. Seus pais o chamavam, seus irmãos ratificavam o pedido dos pais, mas nada adiantava. BOB era teimoso consigo mesmo e permanecia em seu minúsculo mundo assediado pela escuridão e pelas trevas.

Os pais de BOB estavam muito preocupados e conversavam a sós todas noites, na verdade tarde da noite, sobre o comportamento doentio de BOB e não sabiam o que fazer, pois viviam no vale distante de quase tudo. Queriam que BOB levasse uma vida normal.

Certa noite a mãe de BOB soltou um desabafo, chorando, disse: Só DEUS salva o meu filhinho.

Em dias de chuva, que não era raro, toda a família, com exceção do BOB, tomava um belo banho nas águas transparentes e puras na cachoeirinha que se formava naturalmente entre as pedras que se enfileiravam na diagonal da montanha e o ratinho BOB olhava para a chuva esticando o pezinho com aquela vontade de sentir o sabor da água, mas não saboreava-se daquele fenômeno natural.

Os pais de BOB já estavam ficando velhinhos e os filhotes já não eram mais juvenis, adultos, tinham que sobreviver as ameaças naturais daquele lugar, contudo BOB que sofria de um mal, precisava curar-se ou inevitavelmente iria padecer.

Era noite de lua cheia e de céu límpido recheado de estrelas. Acho que o relógio marcava meia noite. BOB adormeceu mais cedo e sonhou que DEUS pedia a ele que saísse daquela toca, então BOB estava fora da toca, caminhando, comendo arbustos puros e gostosíssimos, correndo para um lado, correndo para o outro, querendo assustar as lindas borboletas coloridas, brincando com seus irmãozinhos de esconde-esconde, tomando banho de chuva, banhando-se na cachoeira, admirando o céu a noite junto de sua família e até fazendo alguns versos.

Pela manhã BOB acorda. Ah! Sorri pela primeira vez, olha assustado para os seus pais e irmãos e pede desculpas: Perdoem-me família por eu ter sido assim. A partir de hoje eu vou viver com vocês e com o meu novo mundo. E naquele instante caía uma chuva fininha e gostosa lá fora e BOB saiu correndo e deu um pulo de ponta na grama escorregadia, saiu rolando de cima para baixo, dando cambalhotas, gritando e cantando, molhando pela primeira vez o seu lindo e virgem pelo cor cinza e se enchendo de emoção e de liberdade. BOB renasce de vez.

Agora a família inteira se abraça, chora de felicidade e agradece a DEUS.