A Rosa Negra

E chega mais uma linda primavera. O reino fica enfeitado com as mais belas flores, havia tulipas, girassóis, cerejeiras, jasmins, rosas... Rosas, principalmente elas, tinham muitas, e eram as preferidas do rei. Em seu imenso jardim, há mais rosas do que qualquer outra coisa. O rei é tão ciumento com suas flores, que já não tem mais jardineiro, cuida ele mesmo das benditas flores. Mas antes, não era assim, o rei não ligava para flores, até mesmo as ridicularizava. Desde muito jovem, era um homem rancoroso, passava maior parte do seu tempo punindo os delatores e causando genocídios. Até que em um longo inverno, ele, e seu povo, quase morreu de fome. Era um inverno rigoroso, destruiu todas as plantações. E a comida armazenada não foi suficiente. Felizmente, o inverno estava acabando. Com o início da primavera, as plantações voltaram a funcionar, e as arvores brotaram seus deliciosos frutos. Em meio à tanta beleza, o rei percebeu uma ainda maior: as flores. A primavera deu um grande empurrão no florescimento das flores, e logo, já havia dúzias e mais dúzias de flores florescidas. A primeira que o rei viu desabotoar, foi uma rosa. Uma rosa negra, apareceu bem no meio de seu jardim. O rei ficou abismado com aquela cena, nunca havia visto uma flor se abrir, principalmente uma rosa negra. Com certeza, era um flor rara. O rei logo entendeu o que ela significava: o fim do inverno; o fim de toda aquela fome e escuridão.

O rei cuidou daquela flor. E também plantou outras. Infestou seu gigante jardim com variadas flores, mas sempre dando preferência para as rosas. Com medo de sua única e bela flor negra fosse "ameaçada", proibiu a entrada de todos em seu jardim, exceto a de si próprio. Depois de um tempo, também proibiu a entrada de qualquer um no castelo, dando liberdade somente para os guardas, que impedia a passagem de outros.

Agora ele estava sozinho, quer dizer, ele estava, mas não era dessa forma que se sentia. A companhia das flores eliminava qualquer solidão. Ele sentia suas companhias, e elas a dele. Por morar sozinho e rodeado de flores, as pessoas achavam que ele havia enlouquecido, mesmo assim, não faziam nada contra ele, agora ele era um homem bom, e se algum outro rei entrasse no lugar dele, toda aquela dor e fome poderia voltar. Era melhor deixar assim, um rei louco apaixonado por suas flores. Por que mudar isso?

Houve algo que mudou tudo: o outono chegou. Rapidamente, as flores do imenso jardim foram se desmanchando. O rei não conseguia cuidar de todas, eram muitas, e não paravam de cair. Ele entrou em desespero, e abraçou sua flor favorita: a rosa negra. Em prantos, clamava para a rosa não o deixar. Não, ela não poderia ir embora, não podia morrer. Morreu, a flor morreu. Seu caule e folhas murcharam e as pétalas desabaram. Agora não era só o inverno que estava contra ele, mas também o outono. O maldito outono!

Desiludido com a vida, o rei voltou a ser aquele antigo bárbaro, cometendo as mesmas barbaridades de antes - mas de forma ainda pior. Quando o inverno chegou, pegou toda a comida que conseguiu de seu povo e abasteceu seu armazém. Agora, ele não passaria fome. E o frio daquele inverno não era tão intenso, usava de sua grande lareira para se esquentar. Mesmo sem fome, e aquecido, o rei sentiu que faltava algo. Aquele castelo estava vazio. Nada para fazer. Uma solidão insuportável. Se agasalhou bem, e foi até o jardim. Novamente, o rei chorou. Seu jardim estava repleto de neve, não havia mais nenhuma vida vegetal ali. As flores o havia abandonado...

Já não aguentando ficar sozinho, o rei ofereceu um baile, onde escolheria a mais bela moça para ser sua mulher. Não economizou na decoração do castelo, e usou quase de toda sua comida, oferecendo um enorme banquete. Donzelas de todos os reinos apareceram, quase todas interessadas na fortuna do rei. Uma mais bonita que a outra, todas tentavam se sobressair de alguma forma. Mas o rei não estava satisfeito, nenhuma das moças eram mais bela que suas queridas flores. Isso o deixou desanimado.

Até que no final da festa, uma linda mulher apareceu. Seus cabelos eram vermelhos, seus lábios da mesma cor. Os olhos eram negros, e refletiam o clareado do fogo da lareira. A pele era tão branca quanto a neve lá fora. E seu vestido verde, era tão longo que se arrastava pelo salão. Aquela era uma rosa vermelha.

- Eu, Afrodite, deusa da beleza, me declaro sua esposa. Dividirás toda sua fortuna comigo, e reinará a meu lado!

Submisso a aquela beleza, o rei se ajoelhou.

- Deusa Afrodite, eu aceito qualquer coisa que me pedir. Se desejas ser minha mulher, assim será!

- Não precisas mais desse baile, dispensarei todas essas mulheres horrendas!

Humilhadas, as pobres moças caminhavam em direção a saída. A própria Afrodite as escoltou, para humilha-las ainda mais. Quando quase todas haviam saído, Afrodite parou uma das moças. Era uma moça morena, com os cabelos mais negros que poderia existir. Para falar a verdade, quase tudo em si era negro, o vestido, os sapatos, as luvas, o cabelo, as joias e a pele. A única outra cor que existia em si, eram os olhos, eles eram castanhos. Essa combinação poderia parecer louca, mas não era, oferecia à garota uma incrível beleza; uma beleza exótica. A deusa não gostou nada nada daquela aparência, nada poderia ser mais belo do que ela.

- Espere, garota! Você fica!

A garota parou, e olhou inocentemente para a deusa, mas sem teme-la.

- Por que tu se vestes assim? Pensas que está em um velório?

- Eu só gosto da cor negra, gloriosa deusa da beleza.

- Acho, que você venho para zombar de meu rei.

A moça se ofende.

- Não! Eu não vim! Simplesmente ouvi que aqui vivia um homem que gostava de cultivar flores. Como também gosto, vim conhecer o tal rapaz.

- Então você desejas o meu rei? Desejas?

Ela ficou quieta.

- Você será morta! Meu amado rei, venha até aqui!

Sem saber porquê era chamado, o rei foi até sua deusa.

- O que foi, minha amada?

- Essa garota, caçoa de mim, e admite tentar roubar-lhe de mim! Exijo que essa moça seja decapitada em praça pública!

Aos olhos do rei tocarem nos da mulher, ele se surpreendeu. Era o ser mais belo que havia visto na face da terra; era sua rosa negra! Como não havia a percebido antes? Como?

O rei se ajoelhou.

- Minha amada deusa Afrodite, não posso fazer o que exige. Assim como minha flor negra, essa é criatura mais bela que eu já vi. Decapita-la seria um grande desperdício de tamanha beleza!

Agora a deusa borbulhava de raiva. Não acreditava no que tinha ouvido, poderia fazer qualquer coisa com aquele ira.

- Vocês, zombam de mim. Ela é a criatura mais bela que já viu? Tem certeza? Não chegas nem perto de minha grandiosidade. Nunca vi mais feia.

Os olhos do rei ainda apontavam para a garota, ignorando a deusa. Sua raiva se elevou.

- Maldição! Eu os amaldiçoo! Vocês serão aquilo que sempre cuidaram, aquela coisa sem vida e emoções. Lhes resumirei a uma simples flor! Vocês sofrerão para sempre sendo aquilo que mais amaram!

E assim a maldição foi feita, no jardim do rei, nasceu uma nova flor. Era uma rosa. Dos cabelos da garota, surgiu as pétalas negras. Do corpo do rei, surgiu o caule, que segurava a flor, e a protegia com seus espinhos.

Endriu Costa
Enviado por Endriu Costa em 05/09/2014
Reeditado em 28/08/2015
Código do texto: T4951063
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